A eterna discussão adiada sobre a incapacidade de produzir um ponta de lança razoável. Mas há mais o que se lhe diga na falta de golo...
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Portugal não esteve mal: controlou o jogo, impôs o ritmo que muito bem entendeu (não ter sido sempre o melhor é outra história), trocou a bola decentemente, construiu com coerência e depois esbarrou no ferro. Podia ser uma metáfora, mas não é. Esbarrou mesmo. Bipolar como lhe é costume, e ao segundo empate da tal competição que íamos ganhar de goleada em goleada, o país soltou a língua, a mesma que se enrola quando os resultados disfarçam evidências que há muito saltam à vista. Como a falta de golo, por exemplo. De resto, a caminhada para este Euro foi um somatório de exemplos desses, com sete vitórias tangenciais e quatro delas por 1-0, lembram-se? Poucos quiseram saber - os que quiseram e lançaram essa discussão, invariavelmente levaram com a frase parva que provoca riso instantâneo, ainda que não seja por fazer cócegas no cérebro. "É vencer, nem que seja por meio a zero". O país explode em gargalhadas e leva as mãos à barriga, de tanto rir. Percebe-se, entretanto, que afinal meio a zero não chega e as mãos sobem então à cabeça. O resultado é este: num grupo acessível, Portugal tem deixado exposta a principal fragilidade. A incapacidade de fabricar uma referência de área, tornando mais confortável o ressuscitado 4x3x3, tem sido uma discussão eternamente adiada, mascarada pela ilusão de mobilidade do ataque e pela pontaria de Ronaldo, que também tem o direito de ser humano e acertar no poste. O momento foi inconveniente, é verdade, mas tem esse direito... Mais: a questão da ineficácia tem outras alíneas. A falta de golo não é apenas uma consequência da falta de pontas de lança, claro. Há outros detalhes a discutir. Chega a ser constrangedor assistir a um lance de bola parada favorável a esta Seleção. Livres ou cantos parecem entregues a improvisos de circunstância; ou à crença em milagres. Isso talvez não chegue para um candidato a sério.