Kanté e Jorginho do Chelsea, disputam com De Bruyne (Man. City) o prémio de melhor jogador da Europa. É uma história que explica a época, mas que o futebol não gosta de contar.
Corpo do artigo
Em setenta anos de prémios mundiais, houve apenas três médios defensivos distinguidos, todos alemães (Beckenbauer, Matthaus e Sammer) e, de repente, o colégio da UEFA propõe-nos dois candidatos a melhor da Europa em três possíveis.
14036243
Para cúmulo, Jorginho e Kanté jogam na mesma equipa (o Chelsea, campeão europeu), o que foge ainda mais à tradição. Correm ambos contra De Bruyne, um belga do Manchester City com o perfil clássico de 90% dos vencedores, um médio ofensivo a que outrora chamaríamos "dez", de toque fino e portfólio cheio.
O futebol é um universo de milhões de histórias que insiste em contar sempre a mesma. Quando não o faz, estranha-se, mesmo quando, pensando bem, as escolhas se ajustam ao enredo da temporada. A época foi dos médios defensivos, sobretudo das duplas. Nenhum esteta do Chelsea justifica mais destaque do que a sociedade Jorginho/Kanté, a que se soma a sociedade Jorginho/Verrati na seleção italiana vencedora do Europeu numa final contra a Inglaterra dos humildes (mas decisivos) médios Kalvin Phillips (Leeds) e Declan Rice (West Ham). Mas concordo que, a haver um prémio só para o melhor, o escolhido deve ser sempre um jogador invulgar.
Beckenbauer e Matthaus eram-no, Sammer talvez um pouco menos. Kanté preenche os requisitos todos, incluindo o preferido do jornalista que sou em primeiro lugar: uma vida digna de ser escrita que, em seis anos, lhe deu um campeonato inglês de fábula (pelo Leicester), um campeonato do Mundo e agora uma Liga dos Campeões, sempre com um protagonismo tão silencioso como flagrante. As cinco épocas anteriores, consumira-as entre um contrato de amador com o Boulogne e a II Liga francesa, mais o metro e 68 cm de estatura que faria até os apreciadores de médios defensivos pensarem duas vezes. No campo, cala toda a gente: tanto os fariseus, para quem a simples existência de um médio defensivo é uma afronta, como os "atleticistas" que confundem estatura com poder físico. Um craque tremendo com lugar garantido na história do jogo, haja prémio FIFA ou não.