Mbemba a central pela meia-esquerda é, atenção, uma questão táctica em termos de equipa, não em termos individuais,
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A lesão de Marcano, a rotura dos cruzados, terror da carreira dos futebolistas, abalou a preparação para o regresso. A dupla Pepa-Mbemba irá, em princípio, impor-se mas a provável passagem de Mbemba para a esquerda do eixo dos centrais não é igual para um jogador forte no sentido posicional de corte e de dobras na lateral direita (espaço em que também joga). Descaindo para a fazer o mesmo na esquerda, tal exigirá mais dele na sua natureza táctico-técnica. É o primeiro imprevisto que se coloca aos grandes nesta fase da luta pelo título em formar o onze mais forte para o atingir.
Mbemba a central pela meia-esquerda é, atenção, uma questão táctica em termos de equipa, não em termos individuais, porque incide sobretudo em dobrar, protegendo as costas de Alex Telles quando sobe, como fazia com Corona na faixa direita. Como as dinâmicas ofensivas de faixa e profundidade do FC Porto são essencialmente dos laterais nos últimos 30 metros é imperioso que, nos outros 30 metros que ficam atrás descobertos para o contra-ataque adversário, esteja um guarda-costas táctico de compensação infalível.
Vai voltar o futebol mais o seu circo de ilusões e a conclusão a tirar de tudo é simples: a morte é rápida, mas as revoluções são lentas
O fim do "look de quarentena"
1 - Está a desvanecer-se o "look de quarentena". O desconfinamento já não permite usar as mesmas camisola e calças uma semana inteira. É assim a vida real.
O futebol, porém, não sai dessa clausura para viver de novo livre. Sai e entra num circuito de controlo em que todos os passos que der cada um dos protagonistas (jogadores, treinadores, árbitros) será pré-determinado, delimitado com sinais e setas, tudo como se fosse um jogo de monopólio em que as peças são seres humanos que, só no fim desse circuito rigoroso, encontrarão uma bola e um relvado. Encontrarão, por fim, o futebol nessa altura? Há quem diga que sim. Pelo menos dentro dessas quatro linhas com relva não existem circuitos pré-determinados.
Não é o suficiente para dizermos outra vez que o futebol é nosso! Se é que alguma vez foi. O adepto não entra neste mapa e, o mais provável, é que se junte, furando regras de distanciamento, para ver os jogos pela televisão em locais apertados onde cabe sempre mais um. O debate sobre os jogos em sinal aberto tem argumento sanitário, mas é derrotado ao primeiro argumento financeiro. Uma luta desigual que os clubes, legitimamente, nem deixam abrir.
2 - Está a regressar ao normal a imprensa pop, light (ok, já tentei demais adoptar adjetivos soft) e ela é, afinal, a mesma que promove festivais de insultos. Durante o tempo do "marketing de quarentena", tinham dito que tudo isto iria fazer nascer um mundo novo em termos de valores como consequência do que estávamos a viver, que se ia passar a dar valor às coisas mesmo importantes, aproximar emoções, sentimentos, outra forma de vivermos respeitando-nos com esses valores. Por pouco não disseram que a Branca de Neve iria meter mais sete anões em casa.
Pois o tal mundo novo pós-quarentena já pôs o nariz de fora e bastou isso para o mundo velho voltar aos pulos. O futuro não está nas mão dos que têm ideias. O futuro está nas mãos de quem mata ideias e perpetua mundos velhos que eles inventaram. Esqueçam, em tudo o que escrevi, os ideais, histórias doutros tempos, causas impossíveis e descer as montanhas. A conclusão a tirar de tudo é simples: a morte é rápida, mas as revoluções são lentas.
3 - Continuaremos "enquanto houver estrada para andar". A confiança que tenho nos jogadores nunca me traiu ao longo de tantos anos. Quando a bola voltar a saltar no nosso futebol, tudo voltará à (a)normalidade. Sempre avistei o futuro como algo curto. É que a realidade está por aí todos os dias e não há (mais) tempo para se viver enganado. Ganhará quem jogar melhor como o tinha feito nos tempos pré-pandemia mais próximos. Não há tempo para criar nada novo.