Marega um monstro na transição defensiva. Estranho? Não.
Marega, o melhor jogador do FC Porto na transição defensiva, e o que espero ver mais no futuro do Sporting: o guarda-redes Maximiano
Corpo do artigo
1 - A Liga Europa é uma "casa portuguesa". Podemos ter os nossos melhores sonhos de grandeza, construir relvados junto ao mar, mas o condomínio de nuvens gigantes da Champions é, cada vez mais, incomportável para a nossa realidade. Depois de o Benfica ter de lá caído, FC Porto e Sporting, mesmo com vários erros, continuam naturalmente o seu caminho europeu.
Muito gritou Sérgio Conceição com Otávio durante o jogo com o Feyenoord. Sem perceber bem, o jogador perguntava com gestos o que o treinador queria mesmo. Como na primeira parte a equipa estava a atacar para a baliza mais longe, tal dificultava ainda mais esse diálogo à distância. Conceição queria estabilizar o jogo interior, puxando Otávio para o meio e fazer melhor a cobertura desse corredor central, que tinha atrás Uribe, por vezes a fugir da melhor posição.
2 - O facto de querer ganhar o jogo "por fora", através dos flancos, subindo os dois laterais ao mesmo tempo, criava perigo a atacar mas, ao mesmo tempo, abria crateras a defender, nas costas de Corona e Alex Telles, os laterais-extremos. O jogo ficou caótico logo ao primeiro toque e, por isso, não surpreendia o 2-2 aos 21 minutos.
Em 4x4x2, era impossível fazer coberturas e pressão no início, seria jogo para desenhar mais vezes o 4x3x3 e, assim, a equipa só se equilibrou mesmo quando, já na segunda parte, meteu o terceiro médio de raiz (Sérgio Oliveira) e recolocou Otávio na esquerda.
O arranque do comboio-Marega e os dentes da bota de Soares a deslizar para cima da baliza tinham dado o golo da vitória. Pelo meio, até Marega deu toques calcanhar (origem do 2-0) e destacou-se, sobretudo, num aspeto que poucos reparam e onde ele é o melhor jogador da equipa (entre os avançados nem se discute). É um monstro na transição defensiva. Estranho? Não. Na minha visão, ele é o melhor jogador do FC Porto a defender na reação à perda da bola.
3 - O Sporting lançou mais um "onze experimental" na Áustria. Perdeu claramente (3-0). Silas falou em aposta na formação para não hipotecar a época. A questão foi imediata: qual época? A luta pelo terceiro lugar e ainda a Taça da Liga? Claro que existiam jogadores castigados e outros condicionados, mas jogar assim na única prova que tem entusiasmado o mundo leonino foi mais um golpe na sua autoestima. Nem sei se ganha algo para jogos seguintes.
Mas sabem de quem gosto mesmo no meio de toda a turbulência que tem sido a época do Sporting? Do guarda-redes. De Maximiano. Tem pinta a encher a baliza, compleição física, agilidade certa com o sentido posicional, serenidade e vocação emocional. Não fará ainda milagres em defesas, mas aposto nele para fazer alguns no futuro.
O Braga com neve!
Notável a caminhada europeia do Braga: exibições e resultados. Nada melhor do que o centro-passe trivela de Fransérgio, na neve de Bratislava, para Paulinho fechar a goleada ao Slovan. Este "Braga europeu" é quase irmão gémeo do "Braga nacional", mas separados à nascença. Da derrota nas Aves ao deslumbre europeu mediaram poucos dias. Mas, o que pode provocar tamanha diferença (mudança), que já se viu noutras sucessões de jogos campeonato/Europa?
A concentração e motivação são fatores que contam, sem dúvida, mas é mais o facto de os mesmos jogadores encontrarem outro tipo de espaços para jogar (a atacar). Em Portugal, já referi o vício que é, contra equipas fechadas, abusar dos cruzamentos para cima dessa explosão demográfica defensiva adversária. Na Europa, com equipas que também buscam iniciativa, já encontra o habitat tático para sair rápido na contra-iniciativa, mantendo a sua personalidade e autoridade no jogo desde o início. Já não precisa de cruzar (eu acho que nunca precisa tanto) e mete a bola na relva em triangulações rápidas. Em vez de centros, faz passes para a área!