Se for necessário reinventar a bola, reinventa-se a bola e ponto final, já está. Na Choupana, sem ninguém, ela moveu-se sozinha no relvado.
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1 - Os jogadores, as duas equipas, árbitro, dirigentes, tudo reunido, falando e gesticulando à entrada do túnel, e a bola abandonada, à chuva e ao vento no relvado.
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E, no entanto, ela move-se. Sozinha, por si própria. Estarei, admito, nesta descrição a romancear demais o cenário tempestuoso da Choupana que ditou o adiamento (óbvio) do Nacional-Sporting, mas sinto existir nesta imagem quase como uma parábola do estado da nação do futebol. A essência estava em campo. A discussão estava fora dele (perto suficientemente, mas distante). Mesmo debaixo de tempestade senti-me subitamente seguro. Não corremos perigo, afinal. Se for necessário reinventar até a bola, reinventa-se a bola e ponto final, já está.
2 - Em Braga, um jogo que ia "congelando" a equipa mas, mesmo com esse frio "quebra-ossos" no corpo, há algo que emerge sempre: a qualidade técnica dos jogadores. Por isso, após meia hora quase sem conseguir pensar, sentindo dificuldades com as bolas longas do Marítimo (que a velocidade descoordenada de Tagueu e Tamuzo, quando as recebiam, logo desperdiçavam), bastou um rasgo, no passe atrasado de Esgaio e no remate (que, no fundo, foi um... "passe à baliza") de Iuri para marcar a diferença. Sem Rodrigo Pinho, o Marítimo não sabia ver a baliza. O Braga, sem Paulinho, tinha a dupla Iuri-Horta para abrir esses caminhos para o golo.
Schettine a "9" é hoje um "corpo estranho" na equipa. Vejo Abel Ruiz mais como uma espécie de "9,5" (até pela qualidade de passe) jogando melhor na meia-esquerda. Mais do que a alternativa na esquerda de que Carvalhal fala, a prioridade devia estar num "suplente-sombra n.º 9" de Paulinho (reforçando o plantel) e um defesa-central de qualidade indiscutível (a única posição que o onze necessita reforçar). O processo de jogo solidificado protege-a do resto.
3 - O valor de um jogador salta à vista dentro do campo pelo que lhe vemos fazer e não por correr com uma etiqueta na camisola com o tamanho e o preço. O futebol, ao contrário do que as cláusulas de rescisão sonham, nunca será "prêt-a-porter" mas sim, quando se sobem valores para números estratosféricos, "alta costura".
Marcus Edwards é, sem dúvida, um craque. Renovou pelo Vitória e agora corre com a "marca" de 50 milhões de euros. É legítimo. No passado, noutros locais, também se colocaram "etiquetas" semelhantes. Nunca achei que isso fizesse bem a um jogador. Penso, claro, no seu rendimento desportivo quando busca ainda afirmação que lhe permita subir para um nível superior.
O negócio no futebol tem a lógica inversa a tudo que vemos noutros "mercados". É o único local em que o preço muda em função de quem vende e não de quem compra. Pensem nisto.