HÁ BOLA EM MARTE - Opinião de Gil Nunes
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Seria mais compreensível entrar a perder frente à França do que permitir um empate diante de Liechtenstein ou Luxemburgo. E o problema não seriam os pontos perdidos, até porque Portugal tem de longe a melhor equipa do seu grupo de qualificação. Tudo se recuperaria. A questão seria a criação de uma nuvem de desconfiança em torno de Martinez, situação que elevaria os níveis de ansiedade para as partidas mais exigentes. Há que fintar o imponderável e reduzi-lo a nada.
Primeiros minutos vitais: quanto mais cedo se resolvesse a partida frente ao Luxemburgo, tanto melhor, até porque os nulos no marcador trazem consigo aquele nervoso miudinho contagiante. Confiança máxima: nas subidas dos laterais até à área, nas bolas metidas nas costas dos defesas contrários e na presença dos centrais quase como médios.
E o melhor finalizador da equipa continua a ser Ronaldo. É certo que vai chegar o dia em que Martinez vai ter de prescindir dos seus serviços mas agora não convinha muito: evitar ondas, fugir das polémicas. Suave, eficiente e sem ruídos. Missão cumprida.
João Palhinha: o lugar é meu
O terceiro golo de Portugal frente ao Luxemburgo representa a positiva inversão da ordem natural das coisas: no fundo, deveria ter sido Bernardo Silva a cruzar para a cabeça de João Palhinha e não o contrário. São bons sinais. Com passe longo aprimorado nos seus tempos de Sporting, a importância de Palhinha na seleção ganha novos contornos até pelas palavras do selecionador: há talento para se jogar em posse e capacidade física para se atuar em transição. A questão é que Palhinha, mostrando qualidade diante de adversários definidos por blocos muito baixos, mostrou apetência para ser o candidato número 1 a um lugar no meio-campo defensivo de Portugal.
Pedro Neto: em recuperação
Pelas suas características diferenciadas - drible em velocidade e arranque muito forte - Pedro Neto é um nome sempre na órbita da seleção principal, pelo que a sua presença nos sub-21 reveste-se dessa mesma dupla importância: recuperação do jogador e contribuição para os objetivos da equipa mais jovem. Os jogos de preparação diante de Roménia e Noruega foram a melhor notícia possível para Pedro Neto: sempre em ação, apareceu na faixa e no corredor central com confiança e a causar permanentes desequilíbrios. Em Bucareste não teve problemas em tender para dentro e, de pé direito contratura, apontar um golaço. Boas notícias para Portugal.
Alejandro Marquéz: muita calma
O avançado espanhol - que em 2019 contribuiu para que Portugal não fosse campeão da Europa de sub-19 - foi o principal destaque do regresso do Estoril às vitórias. E sobressaiu, sobretudo, pela forma natural e fácil como finalizou, com aquele traço relaxado de quem está habituado a ser eficiente na linha de tiro. Dos três golos apenas um foi validado mas em todos eles mostrou capacidade de posicionamento, entendimento tático, finalização com ambos os pés e perceção de onde está e para onde deve ir o guarda-redes contrário. Num Estoril que ainda assim precisa de pontos, o crescimento de Marqués pode valer vitórias nesta reta final da liga.
Schmidt: a tal história
Para contrabalançar a previsível saída de Grimaldo, nada como renovar com Schmidt. Sobretudo quando se aproxima o sprint final em Portugal e a Liga dos Campeões. Na realidade, o técnico não desiludiu mas caminhou num mar de serenidade: como será Schmidt quando tudo correr mal? Será que sabe cair e reerguer-se?