JOGO FINAL - Há uma parte dos cidadãos do futebol que não joga e não treina, mas vive os seus dias obcecada por marcar golos também. Mesmo que, para isso, precise de inventar balizas.
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Levamos com isto há décadas. São os seis milhões de adeptos deste e os três milhões do outro, sem nada sério que sustente os números atirados para o ar.
E se, um dia, FC Porto ou Sporting superarem mesmo os campeonatos do Benfica, já sabem: será com asterisco.
São as listas de sócios eternamente por atualizar, para não retirar os não pagantes do total mentiroso.
São as transferências inflacionadas por truques de contabilidade ou, à falta de imaginação, simples aldrabices com os supostos bónus.
E são as Assembleias Gerais da FPF para debater mesquinhices com quase cem anos, de maneira a que Sporting e FC Porto (atrelado) possam aproximar-se dos títulos de campeão do Benfica, enxertando nos palmarés ambiguidades dos anos vinte e trinta do século passado.
No final, se correr bem, estará hoje à noite no Gambrinus uma multidão exultante de cinco ou seis engravatados pés de chumbo persuadidos de que são Maradonas de secretaria ou Cruijffs do paleio. Ninguém que tenha participado nos longínquos eventos se sentirá diferente até porque todos, ou quase, já morreram, depois de festejarem o que havia festejar, e nenhum adepto correrá para o Marquês ou para os Aliados.
O Sporting não deixará de ter ganho só seis títulos na segunda metade desses tais cem anos e o FC Porto, que discute grão a grão os troféus globais com o Benfica, viverá com o embaraço de passar à frente do adversário numa sala da Cidade de Futebol, sem balizas, e com Francisco Salgado Zenha como matador, em vez de Taremi ou Evanilson.
E se, um dia, FC Porto ou Sporting superarem mesmo os campeonatos do Benfica, já sabem: será com asterisco. Daqueles valentes.