Maradona, Reinaldo e Vítor Oliveira - a morte é mesmo cruel
Não é fácil substituí-lo no mundo. E mais do que um grande treinador, o Vítor era um grande homem que o futebol não estragou. Até sempre, Vítor.
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1 - Hotel Takanawa, Tóquio, Japão, 1979, quartel-general da seleção portuguesa que jogava o Mundial Sub 20. O vizinho no hotel era de luxo - a seleção da Argentina, treinada por César Menotti, que tinha como adjunto "um tal" José Pekérman... e onde jogava um rapazinho chamado Diego Armando Maradona. A Argentina viria a vencer esse Mundial - o mesmo que Portugal venceu em 1989, em Riade, e em 1991, em Lisboa - e a tecnologia de ponta japonesa permitiu-nos ver ao vivo esse pequeno génio. Todos os que percebiam de futebol viram que estavam na presença de um génio do futebol mundial.
Reinaldo Teles disse-me um dia, quando eu ainda não estava no FC Porto: "Míster, um dia você ainda vai treinar a minha equipa". Mais tarde, quando me sagrei campeão com o FC Porto, ele, a sorrir, relembrou-me: "Eu não lhe dizia, míster, que você ia treinar o meu clube?!".
Um ano antes, a Argentina venceu o Mundial de 1978 e dizia-se que a essa seleção só faltou o pequeno astro em ascensão. Maradona fez depois carreira na Europa, dois anos em Barcelona não muito bem sucedidos - muito por culpa de uma lesão grave provocada por Goikoetxea, que ficou fora de competição por castigo tanto tempo quanto durou a lesão de Maradona. Depois foi para Nápoles e tornou-se um rei em Itália. Maradona fazia tudo o que um futebolista gostaria de fazer e que poucos conseguem. Velocidade, uma capacidade de aceleração incrível, e um controlo absoluto da bola eram características invejadas - só não jogava a central ou a lateral, de resto dominava em todos os espaços que pisava. Maradona deu muito ao mundo do futebol e é para muitos o melhor futebolista que o mundo viu.
É seguramente um dos melhores, como Pelé, Ronaldo ou Messi, estes dois ainda no ativo. Mas julgo que nem vale a pena falar em melhor do mundo. Agora que ele partiu somos obrigados a elogiar-lhe a capacidade de ser feliz a jogar futebol e de transmitir essa felicidade a muitos jovens que sonharam e sonham ser como ele foi e que por causa dele. É isso que me importa em Maradona, o grande exemplo como futebolista fenomenal que foi e que guardaremos para sempre na nossa memória. E a dimensão dele vê-se pelas manifestações de dor e de pesar em todo o mundo, particularmente na Argentina.
2 - O mundo perdeu Maradona e Portugal perdeu Reinaldo Teles e, ontem, Vítor Oliveira. Um choque, para mim e para quem com eles conviveu porque se trata de dois grandes senhores. Reinaldo Teles disse-me um dia, quando eu ainda não estava no FC Porto: "Míster, um dia você ainda vai treinar a minha equipa". Mais tarde, quando me sagrei campeão com o FC Porto, ele, a sorrir, relembrou-me: "Eu não lhe dizia, míster, que você ia treinar o meu clube?!". Eu acho que se pode dizer muitas coisas boas sobre Reinaldo Teles, mas a melhor de todas talvez seja recordar a forma cordial como era tratado por todos os adversários, o respeito, o carinho que tinham. Esteve nas grandes vitórias nacionais e internacionais do FC Porto. E tenho de destacar a lealdade e a cumplicidade que sempre teve com Pinto da Costa. Juntos, ajudaram, e muito, a escrever a história bonita e de sucesso do clube. E o Chefinho tinha uma coisa mais: ajudava os seus e tinha sempre um sorriso nos momentos difíceis.
3 - E ontem foi essa morte inesperada e chocante do Vítor Oliveira, um treinador que eu muito admirava, mas essencialmente um grande homem, de uma elegância de trato extrema. Mais do que as brilhantes subidas de divisão que conseguiu, o Vítor tinha uma capacidade tremenda como treinador e como condutor de homens. Não é fácil substituí-lo no mundo. E mais do que um grande treinador, o Vítor era um grande homem que o futebol não estragou. Até sempre, Vítor.