Manchester United fez muito pela competitividade e interesse da nossa liga
Se o Manchester United não tivesse metido o nariz na nossa liga, dificilmente o Sporting deixaria fugir mais este Campeonato. Rúben despede-se, mas a construção fica e não vai ruir
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Logo à noite, Benfica e FC Porto escrevem mais um clássico, animando uma liga cada vez menos competitiva, que está a ser um passeio no parque para os três grandes. Nunca houve tantas goleadas, tanto desnível e, naturalmente, tanto enfado. É preciso esperar por um clássico destes para se ter a expectativa de um jogo disputado e imprevisível. De um lado, estará um Benfica que recupera de uma relação tóxica e que tanto se ergue, altivamente, como no jogo com o Atlético de Madrid, como sofre recaídas graves, como nos jogos com o Feyenoord e o Bayern. Do outro lado, um FC Porto em processo de renovação, ainda longe de estar consolidado, como se tem notado mais na Liga Europa, onde a equipa sofre da síndrome dos descontos, que é um medo horrível de sofrer golos que paralisa a equipa e faz com que ela sofra mesmo golos.
A grande novidade deste clássico é que decorre sob o pouco habitual signo da subalternidade. O culpado disso é o Sporting, que tem assumido o papel principal, impondo uma hegemonia que já não se via há milénios. Já nem entre os grandes há equilíbrio e luta renhida: o Sporting tem sido muito melhor do que os seus dois rivais, que ficaram com a luta pelo segundo lugar. Se o Manchester United não tivesse metido o nariz na nossa liga, dificilmente o Sporting deixaria fugir mais este campeonato. E agora? Amorim despediu-se hoje, mas a construção dele fica (e também fica Gyokeres, que parece capaz de fazer tudo sozinho) e não vai ruir, pelo menos nos tempos mais próximos. Porém, sem o seu criador e mentor, está condenada a transformar-se noutra coisa; e é essa mudança, esse declínio que portistas e benfiquistas esperam, para poderem também voltar à luta pelo título. Sem querer, o Manchester fez muito pela competitividade e interesse da nossa liga.