TEORIA DO CAOS - Um artigo de opinião de José Manuel Ribeiro.
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O pecado do FC Porto com Luis Díaz não foi cometido na semana que passou. Terá talvez uma década, se calhar mais, e encerra em si mesmo a explicação: no futebol, o dinheiro multiplica-se por artes mágicas.
Em dois anos e meio, um reforço de segunda escolha comprado por 8M€ (o transfermarkt avaliava-o em 2M€) cresceu para os 45 milhões a preço de saldo. Como não ceder à tentação de julgar qualquer crise fácil de resolver?
Mas há ilusionismo por trás da magia. Luis Díaz não apareceu do nada. Houve bons profissionais a detetá-lo e uma equipa técnica excecional a trabalhá-lo, que deixarão gradualmente de existir no FC Porto à medida que se tornam danos colaterais dessa gestão/lotaria. Tirando meia dúzia de contratações inexplicáveis, a motivação desses gastos foram as vitórias, sempre prioritárias na filosofia de Pinto Costa. Revela-se uma ironia amarga que o incidente descambe numa ameaça àquela que arriscava tornar-se uma das melhores épocas de sempre do FC Porto. Até por ser a meio, não guardo memória de nenhum episódio em que uma autoagressão tenha sucedido de forma tão flagrante. Recordo-me da venda de Falcao, no último dia de mercado de 2011/12, mas essa equipa tinha Hulk, o melhor jogador da Liga.
Agora é o Hulk deste campeonato que sai, oferecendo mais um puzzle aos muitos que Sérgio Conceição se habituou a resolver. Acredito que ele tenha alguma quota-parte de responsabilidade também nalgumas decisões financeiras, como todos os treinadores influentes. Vendas que ficaram por se fazer por veto técnico, renovações caras (Otávio, por exemplo) que têm de ser pagas, reforços essenciais (Rúben Semedo, Grujic, Pepê) que é preciso contratar, etc. No caso dele, Luis Díaz acaba por ser apenas um preço exorbitante para o que devia ser a gestão normal de uma equipa de futebol - e que foi impossível, pelo menos, desde 2017.
Noutra perspetiva, se há um momento ideal para um golpe destes, poucos melhores do que o atual devem ter ocorrido na história dos dragões. São seis pontos de vantagem para o segundo, nove para o terceiro e um futebol superlativo, talvez o mais eficaz (e sem dúvida o mais variado) das cinco épocas de Conceição no FC Porto. Isso significa que, apesar de tudo, as decisões tomadas nesse tempo foram, em geral, bastante boas.
Não há qualquer dúvida de que, se existe uma equipa em Portugal capaz de sobreviver à perda de um jogador como Díaz, é o FC Porto, mesmo que, para tornar as coisas ainda mais desafiantes, essa corrida tenha de começar hoje, com um estado de espírito indiscernível, e contra um Marítimo em boa forma, um treinador adversário com histórico de engulhos aos grandes. Mais um onze e um banco desprovidos também de Uribe e Taremi...