Liverpool obrigou Barcelona a jogar sem bola e Messi tornou-se inofensivo
TÁTICA DO PROFESSOR - Jesualdo Ferreira escreve hoje, em O JOGO, sobre as fantásticas meias-finais da Liga dos Campeões.
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1 - Num dia em que há uma grande expectativa à volta do campeonato português, é incontornável falar no que se passou a meio da semana com as meias-finais da Champions. Tenho a certeza de que muitos adeptos de futebol estavam a torcer para que o Ajax chegasse à final, porque joga um futebol que encanta e que nos transportou, em muitos momentos, para o grande Ajax dos anos 70 e que está na memória de muitos adeptos, até por duelos muito intensos com o Benfica.
O Liverpool obrigou o Barcelona a jogar sem bola e Messi sem bola não é perigoso.
Mas os desejos não vão ser cumpridos porque o Ajax, mais uma vez, baqueou em casa. E digo mais uma vez porque não deixa de ser curioso que nesta fase da prova, a eliminar, o Ajax não tenha conseguido vencer uma única vez em casa. Os jogos que venceu foram fora: Real Madrid, Juventus e Tottenham, em três países com campeonatos muito competitivos, Espanha, Itália e Inglaterra e, nos dois primeiros casos, arrumando com dois candidatos ao título.
Não nos podemos esquecer deste pormenor fantástico de ter arrumado estes candidatos e com isso ter criado nos adeptos a ideia de que iria chegar à final e mais ainda depois de ter vencido o Tottenham em Londres. Quando partiu para o jogo da segunda mão, em casa, o Ajax ainda aumentou as expectativas ao marcar dois golos.
O assunto não ficou arrumado porque o Tottenham partiu para a segunda parte com tudo, cresceu, marcou e percebeu-se no 2-0 que a equipa holandesa iria ter muitas dificuldades em aguentar a eliminatória. Depois, houve a crueldade de o golo decisivo ter surgido a segundos do fim. Sim, crueldade, e o futebol é fértil nisso. Não foi por uma questão de método que o Ajax perdeu; foi por uma questão psicológica, o Ajax não consegue aproveitar internacionalmente, ou não conseguiu nesta edição, o facto de jogar no seu estádio, no seu relvado, no seu ambiente.
O método estava lá e resultou, até a equipa se perder e cair animicamente. Pode dizer-se que foi injusta a eliminação do Ajax? Sim, mas também não será justo para aquela postura incrível do Tottenham, que assim chega à final.
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2 - A outra meia-final foi ainda mais surpreendente, porque depois de 3-0 em Camp Nou seria muito difícil acreditar numa reviravolta em Anfield Road. Pois, mas neste caso foi o inverso do que aconteceu com o Ajax, o Liverpool soube espremer ao máximo e aproveitar o facto de estar a jogar apoiado nos seus fantásticos adeptos.
Jogou com isso e ganhou, orientado por um treinador, Jurgen Klopp, que está claramente acima da média apesar de ainda não ter conquistado um título ao serviço do Liverpool. Este jogo trouxe-nos também outra realidade: algo vai mal no reino do Barcelona, até porque não é a primeira vez que lhes acontece algo de inesperado.
Com o Roma, o Barcelona viveu na edição anterior um vexame idêntico. A equipa catalã, nos dois últimos anos, está em termos ofensivos entregue a Messi e a Suárez. Não chega. Neste jogo, o Liverpool obrigou o Barcelona a fazer algo que detesta: jogar sem bola, e o Messi sem bola não é perigoso... Os catalães gostam de ter bola, de a controlar, mas a equipa inglesa soube tirar-lhes a bola, roubar-lhes as melhores ideias. A eliminação, para quem viu o jogo, acaba por não ser uma surpresa.
O Liverpool vai jogar pela segunda vez consecutiva a final da Champions, merece ganhar a prova, mas vai ter do outro lado uma equipa que também quer o mesmo. Sim, teremos uma grande final da Champions.