A análise de André Morais à 31.ª jornada da Liga NOS.
Corpo do artigo
Vamos supor: o Sporting vence o Boavista, o FC Porto ganha ao Farense, o V. Guimarães bate o Famalicão.
13698513
Na bolsa de apostas a "odd" mais baixa até aponta nesse sentido. Pode perfeitamente acontecer e o campeonato, pelo menos na metade que mais entusiasma - a luta pelo título e pelos lugares europeus - fica praticamente resolvido à 32.ª jornada, duas antes do fim, muito tempo antes daquilo que é desejável numa prova que constantemente reclama emoção. É difícil, muito, que qualquer lugar entre os seis primeiros possa mudar. E a jornada que ontem terminou foi decisiva para reforçar a ideia que, na verdade, há muito tempo se instalou: Sporting campeão, FC Porto segundo, Benfica a seguir, Braga em quarto, Paços e V. Guimarães nos outros lugares europeus. Esta foi a semana em que quem corria atrás do prejuízo falhou. Falhou o FC Porto, porque ficou mais longe do Sporting, falhou o Benfica porque não se aproximou do FC Porto, falhou o Paços (é muito estranho dizer isto após um empate e excelente exibição em Braga) porque não conseguiu manter o quarto lugar um bocadinho (por mínimo que fosse) em aberto, claudicou o V. Guimarães porque não aproveitou o empate pacense, falharam Santa Clara e Moreirense, cada vez mais distantes de ultrapassarem os vimaranenses.
No final da jornada - e está quase a começar a próxima - ficou a rir-se o Sporting, eventualmente a equipa que conseguiu o resultado mais importante da jornada. Faltam dois empates ou uma vitória para festejar e, apesar de o Boavista precisar de pontos, é difícil acreditar que outro jogo poderia ser melhor para isso. Talvez com o Rio Ave, mas esse foi o jogo que passou. Há 31 jornadas que axadrezados e vilacondenses são vistos com estranheza no fundo da classificação, mas também há muito que ninguém estranha. Falta muito a uma e outra equipa embora, me pareça, sofram de problemas distintos. Fico sempre com a sensação de que ao Boavista faltam melhores jogadores, especialmente defesas, centrais então nem se fala. Já o Rio Ave tem excelentes intérpretes, mas pareceu-me sempre fora de água, apesar de Mário Silva e Miguel Cardoso, essencialmente, terem procurado dar coisas diferentes ao jogo da equipa.
Sporting sai a rir numa jornada em que até ao oitavo ninguém ficou a ganhar. A Liga está quase resolvida. Falta a descida e há dois históricos aflitos. O Farense merecia mais
Por muito que a estrutura tenha reclamado da arbitragem com os leões, tem essencialmente que olhar para dentro e perceber que, com ou sem penálti contra, o Rio Ave nada tinha feito ou veio a fazer para justificar um resultado diferente. Nas últimas cinco jornadas, apenas três pontos, a pior equipa da Liga NOS nesse período, a única que não venceu. No jogo da salvação há cada vez menos cadeiras disponíveis. Com o Nacional quase condenado, Farense, Boavista, Rio Ave e Marítimo são, provavelmente, quem vai, até ao fim, tentar escapar aos outros dois lugares indesejados (um dá descida direta, outro play-off). De todos, o melhor pareceu-me sempre, de longe, o penúltimo classificado, o que até parece um contrassenso. Mas são poucas as equipas que emprestaram a este campeonato uma ideia tão positiva e agradável como a Farense, primeiro com Sérgio Vieira, depois com Jorge Costa. O jogo com o V. Guimarães foi só mais um em que o justo triunfo escapou.
Por fim, uma menção de honra para o Tondela, que fora de casa tem colhido o que na primeira volta nunca conseguiu, e para o Belenenses, este muito por conta de Cassierra, um avançado que raramente me convenceu em 2019/20, mas prova, mais uma vez, que no futebol a adaptação e o contexto são quase tudo.
NO TOPO - Rúben Amorim, claro
Será a figura deste campeonato e na semana em que praticamente assegura o primeiro título nacional da carreira não seria justo destacar outro treinador/jogador, especialmente porque conseguiu que o Sporting reagisse à pior fase da época com dois triunfos fora consecutivos em casas que têm sido um problema. O último, em Vila do Conde, fácil, fácil.
NO FUNDO - Rio Ave sem desculpas
Miguel Cardoso está longe de um bom trabalho no Rio Ave, mas ao nível do percurso de Mário Silva e Pedro Cunha. Em média, todos fizeram um ponto por cada jogo neste campeonato, muito pouco para a norma dos últimos anos. A culpa não pode ser só dos treinadores. E nem dos árbitros.
O MOMENTO - Enfim Paulinho
Porque matou definitivamente o jogo com o Rio Ave, porque é um golaço (remate de fora da área), porque o avançado tem estado em cheque no Sporting desde que chegou, porque o título ficou a um jogo e porque os grandes investimentos pagam-se assim. Por tudo, basicamente, Paulinho fez o golo da jornada. Mas tem que fazer mais porque cinco, em toda a Liga, não são nada.