Artigo de opinião de António Oliveira
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Há homens que passam pela história. E há homens que fazem a história. Jorge Nuno Pinto da Costa não foi apenas um presidente. Foi um símbolo. Um arquiteto de glórias, um estratega implacável, um visionário, um adiantado mental que desafiou o impossível e escreveu, com punho firme, as páginas mais brilhantes da história do FC Porto.
Foi tratado como um rei, sem coroa ou manto escarlate. Sem mitra, sem anel com brasão, sem trono no Olimpo. Mas foi seguido, admirado, venerado por aqueles que reconheceram nele a força de um líder, a determinação de um guerreiro e a paixão inabalável por um amor maior: o FC Porto.
Não precisou de títulos nobres, pois a sua nobreza vinha da alma. Não precisou de privilégios, pois fez do seu trabalho e da sua dedicação a sua maior honra. Não precisou de juramentos, pois os laços que criou foram feitos de lealdade e fé. Era um escudo, uma identidade, uma missão que carregava como quem carrega um destino maior do que a própria vida. Falava com a autoridade de quem sabia o que queria, de quem conhecia o caminho, de quem não temia batalha alguma. E foi assim que transformou o FC Porto numa potência.
Um legado irrepetível
Com Pinto da Costa, o FC Porto deixou de ser um clube forte para se tornar um clube lendário. Foram títulos, conquistas, momentos que fizeram sonhar e vibrar gerações inteiras.
Foi ele quem mudou a mentalidade do clube. Quem incutiu o espírito vencedor. Quem nunca permitiu que os portistas se contentassem com menos do que o topo. Com ele, vieram as noites mágicas da Taça dos Campeões, da Liga dos Campeões, das Taças Intercontinentais, das conquistas europeias e nacionais que fizeram do FC Porto o clube português mais temido e respeitado fora de portas.
Mas mais do que os troféus, Pinto da Costa deu ao FC Porto uma identidade. Uma alma. Um ADN de superação e luta que se tornou inseparável da história do clube. Foram décadas de vitórias, de rivalidades, de combates que travou com a mesma intensidade com que vivia cada jogo. E, no fim, tudo o que fez, fez com paixão e por amor ao clube.
O tempo não apaga um nome eterno
Mas o tempo, sempre o tempo, impõe-se sem pedir licença. Dizem que ficou para além da hora. Que não viu o momento de partir. Que foi maior do que o tempo lhe permitia ser. Talvez tenha acreditado que a eternidade lhe pertencia, como tantos o fizeram crer. Talvez tenha querido lutar até ao fim, sem aceitar que até os mais fortes, um dia, têm de descansar. Mas ninguém poderá apagar o que construiu. Ninguém poderá negar a entrega, a paixão, a força com que marcou o seu nome na história. Porque um homem não se define apenas pelos seus acertos, nem pelos seus erros, mas pela soma do que deixa, do que transforma, do que edifica. Hoje, diante de Deus, não há troféus, não há títulos, não há estátuas. Há apenas o homem, a sua essência, a sua verdade. O seu coração, com todas as marcas do caminho percorrido, com todas as dores e alegrias que carregou.
A homenagem que chega tarde
Obrigado, lendário e eterno presidente, pelo percurso que ninguém mais fará. A estátua, a rua, a avenida, a rotunda que levarão o seu nome são apenas formalidades. Um tributo inevitável, mas que jamais estará à altura do que construiu. Pena que não o tenham feito em vida. Pena que não tenha sentido, ainda entre nós, o reconhecimento que merecia. Pena que só agora tantos percebam a grandeza do homem que mudou para sempre a história do FC Porto e do futebol português.
Mas o verdadeiro tributo já foi feito, muito antes de qualquer placa com o seu nome: foi escrito nos livros de história, nos relatos das conquistas, na paixão que incutiu em cada portista.
O seu dragão não morreu. A sua chama não se apagou. O seu legado não se esmorece. Porque quem viveu como ele viveu, quem amou como ele amou, nunca desaparece verdadeiramente. Fica nos corações dos que o seguiram.
Fica na memória dos que o respeitaram. Fica na história dos que não deixam cair aquilo que ele construiu. Que a nossa memória lhe seja justa. Descansa em paz, eterno presidente.
António Oliveira