VELUDO AZUL - Uma opinião de Miguel Guedes
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Inesperado e dramático, o desaparecimento físico de Jorge Costa abateu-se sobre a nação portista. É esmagador perceber como um momento de eclipse pode suspender a respiração a tantos e a tantas que cresceram a inundar a alma com o seu exemplo de paixão, dedicação, liderança emocional, jogador-homem-capitão que deu tudo pelo seu clube, centelha dentro e fora do campo, vindo da humildade e timidez para as suas quatro linhas de fogo azul e branco, indomável e inconformado. É também assinalável e revelador como alguém que sempre cerrou os dentes a ferro e fogo pelo FC Porto parta com um sentimento tão consensual de perda entre os seus adversários, mesmo aqueles que tantas vezes foram os seus selvagens detratores. À sua imagem, também a da gentiliza fora de campo, restam poucos. Se do antes quebrar do que torcer se fazem os símbolos, uma certeza temos: Jorge Costa afastou-se do mito porque foi um herói azul e branco de carne, osso e alma. Aconteceu e permanecerá sem nenhuma subtração de camisola.
Jorge Costa afastou-se do mito porque foi um herói azul e branco de carne, osso e alma. Aconteceu e permanecerá sem nenhuma subtração de camisola
É indiscutível que a exibição frente ao Atlético de Madrid demonstrou um reencontro de alma. A confirmar já amanhã, frente ao Vitória de Guimarães, num mais do que lógico adiamento de jogo que permite a todos reencontrar alguma paz de espírito que nos devolva à química de vitória. Apesar de todas as dúvidas que se possam convocar, naturais num início de época com uma mudança de treinador e uma alteração-regresso a um sistema tático genético, sentiu-se mais progressão entre o jogo com o Twente e o Atlético de Madrid do que em toda a época passada com Martín Anselmi.
O dedo de Francesco Farioli pode fazer-se sentir desde a primeira jornada. A arrumação da equipa e a potenciação do melhor que os jogadores têm para dar começou a ficar evidente através do reconhecimento da preponderância de um arranque ofensivo acelerado no centro do terreno através de Froholdt (note-se a importância do primeiro impulso do dinamarquês com a bola nos pés, o que lhe permite ganhar metros no primeiro movimento) e na recuperação agressiva de toda a equipa perante a perda. É absolutamente imperioso que a equipa esteja bem fisicamente para executar este tipo de ideia de jogo. Mais: é necessário que haja alternativas à altura no banco. Assim como duas ou três fórmulas para resolver problemas e adversários distintos. Uma delas passará, obviamente, pelo génio de Rodrigo Mora. O que não será difícil de antecipar com a inteligência emocional que Farioli tem revelado. Acredito que Jorge Costa se reconhecesse nesta liderança. Que seja legado.