Jogos Olímpicos. É agora
Miguel Laranjeiro, presidente da Federação de Andebol de Portugal, em nova crónica para O JOGO.
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Chegou o Dia O. A Seleção Nacional de andebol começa este sábado a participação nos Jogos Olímpicos de Tóquio.
É agora que se vai concretizar a presença histórica do andebol nos Jogos Olímpicos. Nunca tinha sido possível uma presença, desde o ano de 1972, em que a modalidade passou a ser olímpica. Antes, tinha havido apenas uma experiência nos jogos de 1932 (Berlim).
Os poderes públicos têm de ser capazes, definitivamente, de olhar para o Desporto como uma aposta estratégica para Portugal
Há quase 50 anos que pudemos ver o andebol nos Jogos Olímpicos. Ao longo das primeiras décadas os países do leste europeu foram dominantes, nomeadamente com a presença da antiga União Soviética ou da ex-Jugoslávia. Nas últimas décadas, os países nórdicos e do centro da Europa passaram a ganhar um espaço de prestígio nas presenças nos Jogos Olímpicos.
Houve grandes entusiastas e apoiantes da presença olímpica, dos quais me permitam salientar o ex-presidente da Federação, Luís Santos, que sempre sonhou com este momento. Mas de facto nunca foi possível esta presença na elite do andebol. Este ano, com uma conjugação de vontades e oportunidades, que foram aproveitados em todo o seu esplendor, lá estaremos e posso garantir que será de corpo inteiro. Em Tóquio 2020, os eleitos de Paulo Pereira estarão a dar o melhor deles numa experiência inolvidável.
Este foi um percurso longo, baseado num trabalho competente, numa aposta continuada e num compromisso com o país.
No trabalho competente de um grupo de atletas que mostraram uma maturidade de realçar, de um profissionalismo ao mais alto nível e de um querer profundo que derrubou muitas barreiras.
Uma aposta continuada, quer através das definições estratégicas da Federação de Andebol de Portugal, quer de uma equipa técnica estável e com elementos acrescidos, num investimento ao nível das melhores seleções do mundo.
Um compromisso com o país, pois é assim que sabemos estar, e esperamos que a reciprocidade se concretize, pois tudo é muito bonito quando há sucessos e resultados, mas os poderes públicos têm de ser capazes, definitivamente, de olhar para o Desporto como uma aposta estratégica para Portugal.
O percurso até aqui é conhecido, mas nunca é demais recordar. O Europeu de 2020 (que decorreu na Noruega e Suécia) foi o primeiro passo e decisivo para este caminho olímpico. Obtivemos a melhor classificação de sempre num Campeonato da Europa da modalidade (a última participação, aliás, tinha sido em 2006), com prestações notáveis como foram os resultados frente à França ou à Suécia. Estava dado um sinal à Europa e ao Mundo que a nossa Seleção Nacional estava para ficar entre as melhores. Para isso foi preciso continuar o trabalho. E foi continuado.
A presença no Mundial do Egito, em janeiro deste ano, foi mais uma vez um momento histórico. A última participação nacional tinha sido em 2003 e o 10º lugar obtido neste Mundial foi o melhor de sempre.
Depois foi o mágico Torneio pré-olimpico em Montpellier, com a garantia do acesso aos Jogos. Naquele fim de semana, foram encontros intensos, com momentos dramáticos, mas com um resultado de ir às lágrimas.
Não posso deixar de manifestar um orgulho extraordinário neste grupo que agora começa a atuação olímpica. História já fizeram, mas os "Heróis do Mar" foram sempre mais longe do que se imaginava. Estou confiante de que é isso o que vai acontecer por estes dias no Japão.
O tal Dia O.