PLANETA DO EUROPEU - A análise de Luís Freitas Lobo.
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1 - A relação entre o jogo e o golo. O eterno dilema entre dois amantes futebolísticos que tantas vezes não se entendem. Amam-se ou odeiam-se. Como, afinal, todas as relações mais profundas e bipolarmente apaixonadas.
A seleção espanhola joga bem, tem um estilo e um sistema bem definidos, sabe trocar a bola com qualidade, sabe pressionar para a recuperar (tem a tal intensidade), produz assim muitas jogadas que entram com perigo pela área adversária, mas, depois, sofre de ataques de ansiedade na finalização que a fazem falhar o encontro com o golo. Para tornar mais perturbante toda esta teia de relações interligadas, e como passa quase todo o jogo (sucedeu frente a Suécia e Polónia) em ataque continuado em cima do meio-campo adversário, sofre naturalmente com as transições rápidas e contra-ataques que a apanham desequilibrada atrás. Neste caso, bastam dois ou três para colocar tudo em causa. Isak quase o provava pela Suécia. Lewandowski, claro, provou-o mesmo pela Polónia.
2 - É simples relacionar a falta de golo com os avançados. Até pode ser, neste caso espanhol. Morata, que sabe movimentar-se com inteligência (é mais jogador do que ponta-de-lança puro), nunca foi um matador por vocação, mas neste momento percebe-se que a sua cabeça se tornou numa metralhadora de ansiedade quando a bola lhe chega perto para esse remate final. Um bloqueio mental evidente que lhe condiciona até a execução puramente técnica.
Neste cenário, Luis Enrique lançou Gerard Moreno para o segundo jogo com essa missão de fazer golos, mas acrescentando-lhe a dificuldade de ter de o fazer partindo desde um flanco, o direito, embora livre para ir para o centro quando quisesse. Essa responsabilidade, porém, também tornou o impecável goleador no Villarreal num avançado de olhar assustado e (também) ansioso na seleção. Ao ponto de os dois, juntos, falharem um penálti nos minutos finais: Moreno ao poste e Morata com a baliza aberta, na recarga.
3 - Além da questão dos avançados (e da relação com o golo) esta Espanha também tem, no entanto, questões prévias em campo (de relação com o jogo). A mais evidente, desde trás, começa na posição de lateral-direito, ocupada por um belo jogador, Llorente, mas que não o é por especialização. É, claramente, mais médio ou ala solto. Tem até tendência a querer jogar mais em movimentos interiores.
Esta falta de um verdadeiro lateral-direito nota-se sobretudo a atacar quando, com Moreno a fletir para o meio em busca do "espaço 9", o flanco fica vazio na profundidade.
A tensão do ultimo jogo (contra a Eslováquia) irá multiplicar esta ansiedade e problema tático. A definitiva decisão entre amor ou ódio da relação jogo-golo