PONTAPÉ PARA A CLÍNICA - Um artigo de opinião de José João Torrinha.
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1 - Há uns bons anos, depois de um jogo do Vitória, o destino levou-me, mais a uns amigos, a jantar na mesa ao lado daquela onde se viria a sentar o nosso mister de então, Manuel Cajuda.
A conversa, tão ou mais suculenta do que a comida, logo ali se entabulou e durou umas boas horas. A dada altura, Cajuda recordava a época anterior, na qual tinha vindo resgatar o Vitória dos infernos da segunda liga. Falou então do jogo que o Vitória teve nos Açores contra o Santa Clara, a sua primeira vitória enquanto técnico vitoriano. Depois de duas derrotas no fim das quais declarara publicamente que ainda não tinha atirado a toalha ao chão (e intimamente já o tinha feito, segundo o próprio) seguiu-se mais uma pobre exibição nos Açores, desta vez coroada com uma sofrida vitória por um a zero, no final da qual proclamara que o Vitória tinha feito um jogo inteligente (a nós confessou que tínhamos é sido bafejados pela sorte).
Vem isto a propósito de outra exibição bem fraca do Vitória em terras açorianas, a de sexta-feira passada. E vem a propósito porque ela nos lembra que só muito raramente se joga mal e se ganha. A regra é usualmente a inversa, pelo que o que aconteceu na época da subida de divisão foi a exceção. Quando uma equipa defende mal (e esse é um mal crónico da nossa parte), não consegue organizar-se no meio campo (e só a entrada de Janvier deu um cheirinho do que podíamos fazer de diferente) e define mal no ataque, só com muita sorte se pode pensar em ganhar.
O que levou então a que o Vitória tenha oscilado desta maneira e depois de duas vitórias seguidas tenha resolvido ser, uma vez mais, o pai dos pobres, oferecendo um triunfo a uma equipa que só tinha ganho duas vezes e que já vai no terceiro treinador este ano? Francamente, não sei. Só espero que os próximos jogos mostrem que se tratou de um acidente de percurso.
2 - Foi Fernando Pessoa, no poema "Liberdade", que disse que Jesus Cristo não sabia nada de finanças. Pois bem, para além de gerir as minhas próprias, pouco sei também, pelo que fico sempre esmagado por conceitos oriundos do economês e que me chegam a parecer realidades mais próximas do esoterismo.
Mas mesmo leigos como eu não podem deixar de ficar preocupados quando leem as medidas de curto prazo que a SAD se propõe levar a cabo para endireitar as contas do clube. Quando falamos em suspender ou renegociar determinados pagamentos ou vender ativos que rendam 10 milhões de euros, na cabeça de muitos de nós não se podem deixar de ouvir campainhas e sinais de alarme.
Este é um daqueles assuntos em que estamos sempre a rezar para que as nossas preocupações se venham a provar serem exageradas e destituídas de sentido. Estou certo que esse é o desejo de todos os vitorianos. Mas isso não diminui a preocupação.