SENADO - Um artigo de opinião de José Eduardo Simões.
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Este desafio entre Benfica e Sporting na Luz é sintomático da evolução do nosso futebol e das principais equipas, da influência dos presidentes nos grupos de trabalho à forma dos treinadores se relacionarem com os jogadores, a maneira de construir um plantel, a escolha de atletas, a aposta na formação e nos jovens ou a mensagem que se transmite lá para dentro e os sound bites de comunicação para o exterior.
Em relação aos treinadores em especial, quem não entender as diferenças em relação ao passado e a realidade do vedetismo e do dinheiro que jorra acaba triturado e é afastado face à pressão das redes a acrescer à da comunicação social. Jorge Jesus, e também Fernando Santos e Mourinho, continuam a ser tecnicamente muito bem preparados e competentes nos métodos de treino, princípios e modelos de jogo.
Mas estão a mostrar inadaptação e receio face às mudanças que o tempo trouxe. O comportamento e inconsistência das suas equipas, o discurso pouco atrativo (que diferença em relação à força e determinação que transmitiam), as razões que dão para resultados adversos, as expressões faciais mais próprias de derrotados do que generais que lideram as suas tropas vitoriosas até ao fim do mundo, são provas evidentes. São os treinadores com melhores resultados de sempre e estão debaixo de fogo sob intensa pressão. Ou dão a volta ou cedem. Jesus é o mais exposto porque o mundo encarnado, os seus dirigentes e adeptos, a solícita comunicação social não entendem por que razão o clube mais poderoso, com maior orçamento e mais rico não está 10 pontos à frente no campeonato, com Porto e Sporting a desunhar-se pelo título de vice.
Não se deram conta das fendas no edifício e que os arames que disfarçavam a ruptura só iam funcionar até à entronização de Rui Costa. Parece claro que, a nível directivo, o Benfica em nada beneficiou com a saída de Luis Filipe Vieira. Não existe mensagem nem jeito, objectivos claros e propostas, nem parece haver grande união. Pelo contrário, o Porto tem tradição de cerrar fileiras nos tempos mais difíceis. É o que estão a fazer. E o Sporting finalmente encontrou uma linha de orientação e estratégia coerente. Direcção jovem, treinador jovem, grupo jovem. Uma cultura de ambição e aproveitamento do talento com custos limitados. Sente-se hoje que Jorge Jesus está gasto e o Benfica o está a desgastar rapidamente. Deve estar a contar os dias para se ir embora. Nada conseguiu fazer do que tanto prometeu e deverá sair pela porta pequena. Conceição tem melhor equipa que as das épocas anteriores. Mais equilibrada e competente, está a dar oportunidade a uma geração de jovens que podem vir a dar cartas no futebol europeu e na nossa selecção. E temos o Sporting de Amorim, que na Luz deu uma grande lição de futebol ao ultrapassado Benfica de Jesus. Uma lição que não tem a ver só com juventude, talento e ambição. É todo o conjunto. Quem é preferível ouvir, Amorim ou Jesus? Conceição ou Jesus? Quais têm mensagens mais claras e fortes? E Amorim representa um refrescamento de imagem pública, para além da competência que demonstra na escolha de jogadores para um grupo que se vê ser inteligente a jogar, e de os levar, tal como Conceição, a superar os seus limites e atingirem patamares muito elevados. Jesus já não o consegue fazer. Sérgio Conceição e Ruben Amorim, com equipas teoricamente mais fracas, são hoje os (diferentes) expoentes dos nossos treinadores de elite. E o Seixal, como centro de formação premium, está a ser ultrapassado pelo Olival portista e pelo Alcochete leonino. Está o Benfica arredado do título nacional? Talvez não, mas lembra os tempos em que era cemitério de treinadores. E Jesus, esse, parece ter atirado a toalha ao chão!