Jesus e o Flamengo: não sejamos Witzel

Gostava de escrever sobre o renascido (e hipotético) respeito pelos portugueses que Jesus extorquiu aos brasileiros, mas o assunto era-me indiferente antes e, depois de cinco segundos a refletir, tenho uma razoável convicção de que continua a ser. Também pensei em gastar umas linhas para explicar que não, a Taça dos Libertadores não é uma Champions de segunda categoria, muito menos para um dos maiores clubes do mundo que, até agora, só tinha ganho uma.

citacao Não é pecado aplaudir Jesus, mas a vitória é pessoal

Posso defender que, na tática, Jesus voltou a perder, confirmando que "agarrar" estes jogos não é o forte dele, mas isso seria desvalorizar o treino, a mentalização da equipa e, sobretudo, a singular mobilização das multidões, de que o trabalho do Flamengo é, de longe, o maior exemplo na carreira. O 2-1 ao River Plate foi quase uma vitória de massas. Depois li o Globo, e vi os tweets de uma figura chamada, desapropriadamente, Witzel (com zê, para felicidade do médio belga que se cruzou com Jesus no Benfica). Wilson José Witzel está para a Libertadores do Flamengo como Portugal está para a Libertadores de Jesus: de fora, a rachar lenha.

Apesar disso, o ex-juiz federal e atual governador do Rio de Janeiro fez-se filmar por um subalterno nos camarotes do estádio, em Lima, e postou o instante em que, agarrado em frenesim ao vidro separador, explode como um tontinho com o primeiro golo do Flamengo. A seguir, este "cristão" aliado de Bolsonaro goza do privilégio de descer ao relvado, onde se ajoelha aos pés do herói Gabigol, que não consegue fugir a um cumprimento forçado, antes de se afastar dali, talvez por se lembrar de que aquele é o cérebro por trás dos massacres nas favelas (prometidos na campanha eleitoral), que há dois meses levaram uma menina de oito anos no Complexo do Alemão.

Não é pecado aplaudir Jesus, mas a vitória é pessoal. Não é dos portugueses, nem dos treinadores portugueses, nem dos antibenfiquistas, nem do cartão de cidadão. Não sejamos Witzeis.