Já estavam cansados de ver Ronaldo a ganhar os prémios
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1 O mundo do futebol é capaz de ter ficado espantado com o facto de Cristiano Ronaldo não ter ganho o prémio The Best atribuído pela FIFA, olhando à época que fez, a ter sido considerado o melhor avançado da Champions (o único prémio que ganhou) e aos muitos golos que marcou. A opção recaiu sobre Modric, que fez um grande Mundial - aqui ganhou ao CR7 - e também uma excelente Liga dos Campeões. Também não deixa de ser curioso que, tal como Ronaldo, também Messi não tenha sido vencedor de qualquer prémio. Parece que logo à partida há aqui uma tentativa de cortar com o que têm sido os últimos anos da atribuição destes prémios. Messi e Ronaldo têm sido os donos dos galardões, têm dividido entre eles esses reconhecimentos e agora ficaram de fora, embora o português possa ter mais razões de queixa do que o argentino, porque esteve melhor, sem dúvida, e até ganhou a Champions. Pois, aqui há uma primeira pergunta a fazer: quais são os critérios que presidem à atribuição destes prémios? É o coletivo que conta ou o individual? Se for o coletivo, estes prémios estão destinados a jogadores de equipas grandes, e apenas a eles; se for individual, a questão já se complica, porque não me parece que tenha havido uma boa escolha neste último The Best. Atenção, a não ser Ronaldo o vencedor, o prémio está bem entregue ao croata, como estaria a Salah, mas é preciso perceber as razões por que o português não ganhou, porque merecia.
2 Estas questões não são pacíficas, porque as opiniões divergem, saudavelmente. Acredito que, neste caso particular, haja algum cansaço. Algo do género: estes ganharam muitas vezes, chegou a hora de ganharem outros. Pode haver um pensamento destes entre quem decide estes prémios. As próprias marcas - e aqui entramos no negócio que é o futebol e que já abordei aqui várias vezes - podem estar interessadas neste tipo de coisas, podem estar por detrás de algumas decisões que nos parecem incompreensíveis. Por exemplo, mais do que o prémio The Best, o golo de Salah ter sido eleito o melhor leva-nos a interrogarmo-nos, de novo, sobre que critérios presidem a esta eleição. O grau de dificuldade, o jogo em que foi, o momento do jogo, o carácter decisivo? Se Cristiano Ronaldo, com o espetacular golo que marcou à Juventus, não ganhou o Prémio Puskás, não sei bem que golo terá de fazer para o ganhar. Salah é um excelente jogador, é uma espécie de Ronaldo quando ele começou, e talvez até merecesse mais do que Modric o prémio The Best (repito, a não ser o CR7), mas o golo que marcou não foi definitivamente o melhor que vimos, o de mais belo efeito, na última temporada. E acho que todos sabemos isso...
3 Todas estas questões acabam por tirar a credibilidade aos prémios, que são muitos, atribuídos pelas instâncias do futebol. Devia ser apenas um prémio. A credibilidade, quando está em causa, pode levar ao cansaço e ao desinteresse por estas iniciativas. Outra questão que muitos têm colocado tem a ver com o efeito que isto pode causar em Cristiano Ronaldo. Sabemos que, por temperamento, fica muito aborrecido quando perde, quer coletiva quer individualmente. Duas coisas podem acontecer: o facto de não ter ganho pode picar mais o português e levá-lo a ser ainda melhor ou a procurar chegar ainda mais longe, ou então também ele está tão frustrado com isto tudo que passará a desvalorizar aquilo que valorizou e venceu justamente nos anos que passaram.