Isto só vai lá com árbitros estrangeiros e com o VAR fora da Cidade do Futebol
A JOGAR FORA - Opinião de Jaime Cancella de Abreu
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1 - Do piso superior da bancada poente da "Pedreira" vi o Benfica amassar o Braga tal e qual fizera dias antes ao Arouca e ao Casa Pia: dominando todos os espaços e momentos do jogo, ganhando rápida ascendência no marcador, projetando até, com absurda naturalidade, a devolução dos três golos que ali tinha encaixado no jogo da Liga.
Foi nesse momento que entraram em ação dois "influencers" que viraram o jogo do avesso - a começar pela não marcação do descarado penálti cometido sobre Gonçalo Guedes, que, em função da posição privilegiada de Tiago Martins e da panóplia tecnológica à disposição de Fábio Melo, jamais pode ser considerado erro humano. Acreditem em mim: isto só vai lá com árbitros estrangeiros e com o VAR fora da Cidade do Futebol, assegurado algures na Europa por profissionais competentes e independentes - mais difíceis de influenciar, de condicionar, de corromper.
2 - Um jogo para os quartos de final da "prova rainha" do calendário nacional, opondo o terceiro ao primeiro classificado da Liga, não conseguiu levar à "Pedreira" mais do que o mísero número de 12491 espectadores - menos que o dérbi feminino disputado recentemente na Luz. Como foi possível alguém cortar aos adeptos do Benfica o acesso ao jogo único de uma eliminatória da Taça? Por onde anda a equidade desportiva da prova? Quem legitima arbitrariedades lesa futebol desta natureza? Que raio de (des)regulamentos são estes?
3 - Eduardo Souto de Moura é, por certo, um enorme arquiteto, mas desconfio que poucas vezes terá ido ao futebol na condição de simples (e mortal) espectador. Porque, se algumas vezes o tivesse feito, dificilmente teria projetado um estádio com as miseráveis acessibilidades pedonais do Municipal de Braga.
4 - Foi de nariz torcido - como um desconfiado - que tomei conhecimento da contratação de Aursnes. Rapidamente me rendi, porém, à sua entrega ao jogo, à simplicidade de processos que lhe permite escolher quase sempre a melhor solução para cada lance, à sua impressionante polivalência tática e à sobre-humana capacidade de pisar os quatro cantos do relvado. Alguém me arranja um autógrafo?
5 - Depois dos direitos televisivos, cuja centralização chegou a ser apontada para 2023/24 - alguém acreditou nisso? -, a Liga veio agora anunciar, orientada pela mesma obsessão centralizadora, outro projeto: o da bilhética. Não foram explicados os objetivos nem a forma de os alcançar, mas deixo aqui um dado que é um convite à reflexão: dos dez jogos com maiores assistências do campeonato, os nove primeiros tiveram lugar no estádio da Luz. E qual é, sabe o leitor, o décimo? Acertou: o FC Porto-Benfica.