SUPERIOR NORTE >> Artigo de opinião de Vítor Santos, diretor do Jornal de Notícias
Corpo do artigo
A demonstração de classe de João Almeida ao longo da semana na Volta ao País Basco permite-me sedimentar a ideia de que estamos perante o melhor desportista português da atualidade. Ao mais alto nível, ninguém se distingue como o ciclista de Caldas da Rainha. Nos tempos da outra senhora – seja lá quem ela for –, as proezas do desporto português eram como os cometas. Apareciam de tempos a tempos, tão depressa como desapareciam, até que veio o 25 de Abril e com ele a liberdade e o desenvolvimento, que no plano desportivo lá foi acontecendo, à velocidade de um país onde o futebol domina a paisagem.
Continuamos a ter grandes figuras no desporto-rei, seguimos com grandes exportadores de talentos, mas o declínio de Cristiano Ronaldo, agora a jogar num campeonato que só é assunto porque ele lá está, deu-se em linha com o surgimento de valores seguros no ciclismo, natação, andebol, ténis, motociclismo, futebol e, provavelmente, estou a ser injusto, porque me esqueci de alguma modalidade.João Almeida não é apenas um jovem com carros valiosos, mansões, joias e penteado da moda, é o expoente máximo de uma geração de corredores que, da estrada à pista, têm desenvolvido carreiras que prestigiam o país.
A campanha olímpica do ano passado teria sido frustrante sem os feitos de Iúri Leitão e Ivo Oliveira, ainda que continuem a ter de esbracejar para encontrar espaços nas páginas de desporto dos jornais (mea culpa também, claro), enxameadas pelas polémicas e lesões na tíbio-társica que marcam a atualidade do futebol. Mas nem tudo está bem no ciclismo em Portugal. À semelhança de outras, a modalidade debate-se com uma dificuldade grande para captar jovens praticantes, numa missão inglória de lutar contra a canibalização feita pelo futebol, uma vez que em cada cantinho com alcatifa verde aparece uma escolinha a faturar com sonhos adiados.Há uma evidente falta de cultura desportiva em Portugal. Que começa nos pais e se transmite para os filhos. O problema não se resolve com um estalar de dedos, mas talvez mereça reflexão séria por parte do próximo responsável pela pasta do Desporto. Se calhar é tempo de as câmaras e o Poder Central deixarem de financiar a prática do futebol, mesmo na formação, canalizando o investimento para as outras modalidades.