PLANETA DO FUTEBOL - Um artigo de opinião de Luís Freitas Lobo.
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1 Não se trata de ser mais forte, trata-se de conseguir colocar o jogo a ser disputado num plano que permita fazer a maioria das vezes possíveis aquilo que se faz... melhor.
Neste caso, foi mesmo (quase) o jogo todo. O Chelsea de Tuchel venceu o City de Guardiola porque, mais do que procurar superioridades técnicas (que sabia não ter) logrou ter sempre a capacidade de tornar o jogo no que queria. O oposto do City, sempre sem conseguir o seu jogo acomodar no relvado.
A forma enganadora de o Chelsea jogar tem uma inteligência de conhecimento como base. Não vive presa a nenhum estilo. Vive em cima da estratégia. Antes, já At. Madrid, FC Porto e Real Madrid tinham sentido isso. Apostando numa equipa muito forte fisicamente no centro defesa (Azpilicueta, Christensen e Rudiger), mais dois laterais "carrilleros" (Reece James-Caldwell), controla toda a largura do campo mesmo que quase sempre num bloco médio-baixo, segurado por um trinco-pivot "nº 6+nº 8" que se concentra em apenas um jogador que esconde (de certeza) um motor dentro dele: Kanté.
Não é, no entanto, uma equipa que só sabe dar valor a este tipo de coisas contra-ideológicas. Também sabe dar espaço ao talento: a visão com passe de Mount, que abre fendas nas defesas adversárias, e a velocidade de passada larga de Havertz, predador de espaços vazios.
2 Guardiola passara toda a época assentado o upgrade do seu sucesso tático num processo defensivo mais seguro com dois médios-centro (um duplo-pivot, com Fernandinho-Rodri na gestão recuada da sala de máquinas). Não foi suficiente para decidir jogar a final com os mesmo princípios (o jogo de trás para a frente).
Desfez essa dupla, colocou nesse espaço o solitário Gundogan (antes médio mais adiantado a pressionar) e, à sua frente, uma "icloud" de avançados (Bernardo Silva-Foden, por dentro, Mahrez-Sterling abertos, e De Bruyne como falso a 9, a receber a bola de costas).
Podem desenhar isto num 4x1x4x1 mas o fundamental é, na pratica, detetar como o golo que decide a final sai de uma desequilibrada transição defensiva (devido a um balaço ofensivo excessivo), numa deficiente interpretação do jogo pós-perda da bola.
Estas invenções de Guardiola em jogar sem os seus pivots, médios-centro defensivos, nunca lhe saíram bem em jogos desta dimensão desde que saiu de Barcelona (onde podia jogar em 4x6x0 tal o valor de reação à perda da bola de todo o conjunto). Em Manchester (como em Munique) não é assim. E, dessa forma, perdeu o jogo que Tuchel ganhou como o estudou, esperando (ambicionando) ter pela frente este Guardiola.
3 Não se trata, portanto, de nenhuma luta entre românticos e pragmáticos. Será antes, procurando definir este duelo Tuchel-Guardiola através de choque de estilos, dum confronto realistas com surrealistas. O próprio Tuchel não tem como seu modelo de jogo preferencial esta estratégia de contenção e saída rápida (no passe e desmarcação) com que venceu a Champions (e viu-se desde os jogos com o FC Porto ao Manchester City). Ou seja, mesmo contra adversários tão diferentes, repetiu a fórmula. Não acho que seja modelo, nem que possa servir de referência para futuros projetos modelares de jogo doutras equipas.
Porque, em rigor, o que acontece é que a estratégia (e o sistema) comem o modelo até tornar a ideologia num alçapão tático (tendo como base contra-ideológica o seu processo defensivo recuado), no qual caiam e por onde desapareciam as equipas adversárias. Depois, só lhe restava explodir e explorar o espaço que ficava naturalmente vazio e lançar o ataque na profundidade aberta.
No futebol, Guardiola irá continuar igual. Tuchel voltará a inventar outra forma de ser diferente.