Ia nascer o tal novo Rafa?
Já tinha avançado essa tese aqui nas semanas anteriores. Não é porque ache que esse é o local ideal para Rafa no sistema
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1 - A sua nova colocação no sistema e o reconhecimento tático de Bruno Lage sobre a posição/missão de Rafa e o que ele pode fazer (como solução para a dinâmica de jogo pretendida e inspirada na época passada vitoriosa) encaixou numa leitura que fizera nestas páginas nos últimos tempos: Rafa como o homem livre criativo atrás do ponta de lança de referência. "Rafa pode jogar como segundo avançado. A nossa estratégia de o colocar entre linhas foi para atacar a profundidade junto com Seferovic", dizia Lage no fim do jogo.
2 - Já tinha avançado essa tese aqui nas semanas anteriores. Não é porque ache que esse é o local ideal para Rafa no sistema, mas porque em face dos jogadores ao dispor de Lage e em face da falta de dinâmica certa com uma dupla de n.ºs 9 mais clássica (mesmo pedindo a um para recuar, sobretudo, Raúl de Tomás, tal é contranatura para ele) só Rafa teria as características de movimentação para fazer esse papel. Exige, claro, um processo de aprendizagem posicional mais específico, devendo manter a liberdade de cair em largura (jogando faixa-centro, centro-faixa), mas tendo o centro entre linhas como referência para a criação de desequilíbrios no adversário para depois surgir na profundidade. Nunca será o que foi João Félix (nem o impacto que ele teve no "boom" tático de Lage 2018/19"), mas pode dar algo desse aroma móvel de jogo. Não vejo outro jogador no plantel para isso e os primeiros vinte minutos de jogo contra o Lyon estavam a provar isso (com Gedson na meia direita, onde por vezes também caía Rafa no tal movimento de abrir e fechar referido), nas jogadas que fez, espaços que abriu, golo que marcou, até que voltou a sentir a lesão, teve de sair do jogo e com esse também saiu a... equipa toda, no sentido da sua boa expressão de jogo.
3 - O resto do tempo foi buscar os problemas da época. Perdera-se esse enganche ofensivo entre linhas e juntavam-se quatro médios sem poder de ataque ao "jogo interior profundo" (Florentino, Gabriel. Gedson e Pizzi, em atual crise existencial de forma, mas que fez o "golo de rato", aproveitando o deslize do guarda-redes a repor a bola em jogo, festejando-o com grito de libertação).
O atual futebol do Benfica tem um peso tático amarrado aos pés que só o melhor Rafa (e o tal novo Rafa dínamo-posicional que estava a nascer) pode tirar da equipa para jogar mais solta na procura do golo.
Outra questão tem sido a utilização de Cervi, ignorado nos jogos nacionais, mas sempre presente nos europeus. Penso que Lage aposta nele porque entende que ele defende melhor na transição defensiva (que é mais exigente nestes jogos). A atacar não vejo que a equipa, tirando mais agitação própria do jogador a correr e furar, melhore a jogar ou... pensar.
Não critico a quantidade de jogos, mas sim a falta de relação competitiva entre uns e outros
O desgaste na cabeça
E, de repente, após longas semanas sem campeonato, vamos ter duas jornadas seguidas, num espaço de três/quatro dias. Não é fácil com esta dispersão competitiva, metendo jogos e longas viagens pelo meio nas seleções, as equipas reencontrarem facilmente o seu modelo de jogo que necessita de tempo (treino) para ser afinado, sobretudo na especificidade de cada jogo/adversário. Quanto mais jogos disputarem nestas condições, pior as equipas irão jogar. Reparem que nem estou aqui a criticar (embora pense que seja desumanamente exagerada) a quantidade de jogos, mas sim a falta de relação competitiva entre uns e outros, para além da inexistência de tempo para treinar e ausências para as seleções onde vão encontrar outras ideias e modelos de jogo. O treinador, no centro deste dilema, tem de gerir jogadores e a sua chamada "memória coletiva de jogo". Isto é, colocá-la em sobretudo em cima das bases mais solidificadas e, a mexer em princípios (subprincípios) não transmitir mais do que uma ou duas ideias novas. Nestas fases, às vezes imagino os jogadores mais com dores de cabeça do que dores nas pernas.