<em><strong>DESCALÇO NA CATEDRAL</strong></em> - O cronista Jacinto Lucas Pires escreve, em O JOGO, sobre o momento do Benfica.
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Escrevo esta crónica no Minho, onde se conhece bem o valor da festa e a inevitabilidade da ressaca. Atrás da iluminação colorida das igrejas, da voz alegre do acordeão, do bom espírito do vinho verde, ergue-se fatalmente uma montanha de manhãs amargas. Daqui, arrisco, percebe-se melhor o que aconteceu ao Benfica, quinta-feira, em Zagreb.
Depois da festa no Dragão, daquela fulgurantíssima vitória que atirou o Glorioso para a liderança do campeonato, reacendendo os corações de milhões de adeptos espalhadas pelo mundo, era de esperar que a equipa entrasse estremunhada no jogo com o Dínamo da Croácia. Era previsível, normal, não tem nada de estranho - ainda assim, deve servir-nos de aviso.
Se não podemos estar sempre num registo de euforia, nos píncaros do futebol-alegria, temos de achar soluções para, pelo menos, não perder o controlo. Claro que não perdemos nada. Na Catedral, com as chuteiras bem dormidas e bem despertas, resolveremos a eliminatória a nosso favor. Mas, atenção, também não ganhámos nada ainda. Hoje, jogando com a SAD azul que insiste em usar o nome do histórico clube da Cruz de Cristo, temos de voltar ao nosso "modo Lage": pressão alta, ideias no sítio, bola arredondada, pé no acelerador.
A boa notícia é que Jonas está de volta - ele que joga de frente, de costas e de olhos fechados.
Mas a ressaca futebolística não foi a única questão em Zagreb. Houve também a lesão de Seferovic. O avançado, que a opinião pública benfiquista começou por desdenhar porque, desde logo, não era um Jonas e, além disso, falhava golos fáceis, tornou-se de repente, como que por magia - sabemos que são sempre assim os grandes saltos de confiança, mas nunca deixamos de nos espantar com eles quando acontecem -, um ponta de lança marcador, que ajuda a segurar defesas e a lançar colegas, e cuja ausência se torna visível em campo. O "Esferovite", caros amigos, reciclou-se em "Criptonite". E como sentimos a sua falta na relva do Maksimir...
Entretanto, descortinámos dois aspetos essenciais do 4x4x2 do míster Lage. Um, já referido noutras crónicas, é a pressão alta. Outro, que se tornou claro em Zagreb, tem a ver com a frente de ataque: não podemos jogar com dois "segundos avançados". Este 4x4x2 exige um farol lá na frente. Não digo um "pinheiro", mas alguém que prenda centrais e saiba jogar de costas para a baliza. A boa notícia é que Jonas está de volta - ele que joga de frente, de costas e de olhos fechados.