Pontapé para a clínica >> Ao Tiago desejo a maior sorte e que tenha nervos de aço para este enorme desafio no dealbar da sua carreira. <br/>
Corpo do artigo
Desportivamente falando, a decisão mais importante a tomar num clube de futebol é a da escolha do treinador. Também por isso (mas não só) é talvez a decisão mais escrutinada de todas.
Qualquer direção sabe que, ao escolher o míster, não conseguirá agradar a toda a gente. E é fácil entender porquê. Porque nós, adeptos, temos gostos e preferências muito diferentes uns dos outros. Uns gostam de treinadores com um estilo de jogo ofensivo, outros valorizam mais um treinador que privilegie um jogo seguro e mais equilibrado; uns gostam de treinadores que defendem um jogo assente na posse, outros que apostem num futebol mais vertical, mais direto; uns gostam de treinadores expansivos na comunicação, outros preferem um estilo mais sóbrio; uns acham que o treinador deve ser um disciplinador, outros entendem que esse tempo já passou e que acima de tudo o míster deve apostar na liberdade e correspondente responsabilidade.
Enfim, é do cruzamento destas e de muitas outras coisas que surge o míster ao nosso gosto e quando o nosso clube escolhe, esperamos que ele penda para o lado do que mais valorizamos no timoneiro que há de comandar a nau. Ora, esta semana, ficamos a saber que o Vitória elegeu Tiago Mendes (que, como quase todos os jogadores promovidos a técnicos, imediatamente ganhou um novo nome) como seu próximo treinador principal. O problema com esta escolha não se põe, como comecei por dizer, pelas suas características enquanto técnico. E isto é assim porque não sabemos que características são essas. Na verdade, conhecemos apenas o Tiago, mas nada sabemos do Tiago Mendes. Que ideia de jogo defende? Que estilo de liderança vai impor? Como vai comunicar para o exterior? Não sabemos.
Lembramo-nos sim do Tiago jogador. Um belíssimo médio com enorme qualidade e que assumia o papel de patrão do meio-campo, equilibrando aquele que é o motor de qualquer equipa. É verdade que o Tiago jogador já era, em certa medida, um Tiago treinador dentro de campo. Mas passar do relvado para o banco, como sabemos, não é algo que se faça de forma automática. A questão não está, por isso, no treinador em concreto, mas na aposta neste perfil de treinador: em estreia, sem experiência de condução de uma equipa a este nível.
Estou certo que a Direção tem consciência de que esta é uma escolha de alto risco. Se correr bem, serão vistos como visionários que souberam ver para além do seu tempo; se correr mal, como irresponsáveis que arriscaram sem precisar de o fazer. Em qualquer caso, a escolha está feita e o tempo de a discutir acabou. Tiago Mendes é o nosso treinador e a ele devemos o espaço que ele precisa de ter para se afirmar. Sem cobranças excessivas, permitindo que trabalhe e que se construa como técnico e que o faça a ganhar. Por isso, ao Tiago desejo a maior sorte e que tenha nervos de aço para este enorme desafio no dealbar da sua carreira.