PLANETA DO FUTEBOL - O arranque do campeonato: mais do que procurar diferentes soluções em ternos de jogo, procurar ter mais soluções em termos de jogadores.
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1 Desde meados dos anos 90 que os três grandes não mantinham, simultaneamente, os seus treinadores duas épocas seguidas. Este simples facto, mesmo com as mudanças que cada onze revela, dão a Amorim, Conceição e Jesus uma margem de construção mais avançada num início de época em que o mais difícil é sempre construir uma nova ideia de jogo.
Nesta época, isso será diferente e, assim, o objectivo será mais incutir novos princípios (movimentações e comportamentos, as famosas dinâmicas) em modelos já edificados.
Conceição não quis falar muito do que poderá ser o seu novo FC Porto em termos de comportamentos ofensivos, mas se existir diferença assinalável entre esta época e a anterior no jogar portista, essa será sobretudo a atacar.
Saiu o jogador devorador de estilo que era Marega e agora, juntando uma dupla pura como Taremi e Martínez (um mais referência nº 9 tradicional, outro mais de ataque à profundidade) ou combinando diagonais dos alas ou médios-interiores a entrar, pode inventar novas movimentações interligadas onde a qualidade técnica e, sobretudo, inteligência de passe e desmarcação (com contramovimentos) irá sobressair acima da pujança física e obsessão pela velocidade por si só.
2 O Sporting permanece sustentado no seu processo defensivo como base da segurança para, depois, poder... ganhar os jogos. Não ataca com muitos jogadores mas continua a saber fazer chegar os laterais à frente no momento certo. Como sabe que estas posições serão as fisicamente mais castigadas no seu modelo de jogo (pelo ataque-defesa-ataque constante que fazem, de laterais a extremos) reforçou-se com mais dois exemplares (Esgaio-Vinagre) para essas posições (de Porro e Nuno Mendes).
De todos os treinadores, é pacifico afirmar que é para Amorim que o sistema é mais inegociável. Em vez da visão de Jesus para quem o futebol do futuro passa pelas equipas jogarem em muitos sistemas e da mutação táctica promovida por Conceição só com a diagonal ou abrir dum falso-ala, Amorim fixa o seu sistema de três centrais (que só varia no ataque, entre o 3x4x1x2 e o 3x4x2x1).
Mais do que procurar diferentes soluções em termos de jogo, procura ter mais soluções em termos de... jogadores para, sem mudar muito as dinâmicas, manter sempre operacionais as suas ideias e princípios de jogo.
3 Tem técnica, velocidade, poder físico e finalização. Não assusta à primeira vista, mas desequilibra ao primeiro movimento. Em largura, avançado em posse, ou aguentado a posição nº 9 como referência e dando (ou desmarcando-se) no momento certo. É Gonçalo Ramos, neste momento o melhor nº 9 com largura de jogo (relação com espaços) do ataque benfiquista.
Há futebol em Tondela
A primeira boa impressão deste campeonato em termos de possível equipa revelação. Pako Ayestarán continua em Tondela e surge com um onze que cativa nos três sectores. O toque do baixinho Tiago Dantas a meio-campo dá a nota da qualidade através da competência de passe com visão antecipada de jogo para descobrir e meter a bola, com precisão, nos melhores espaços ofensivos. Joga como nº 8 de criação de superfície de passe num meio-campo que junta o operário João Pedro a recuperar, e um médio ofensivo quase segundo avançado, Rafael Barbosa. Em 4x3x3 (que tanto fecha em 4x2x3x1 como se estica em 4x4x2) lança dois extremos puros, Murillo e Salvador Agra, tem um nº 9 com força e técnica: Dos Anjos.
Recuperado de lesão (emprestado pelo Benfica, feito no Flamengo), tem um potencial enorme. Ele é a relação principal com o golo num onze que começa numa dupla de centrais com casca de ovo na cabeça: Eduardo Quaresma, 19 anos, e Jota Gonçalves, 21. Inicia esta época já com um modelo/estilo de jogo definido, ao contrário da anterior em que demorou a encontrar o equilíbrio. A vitória clara sobre o Santa Clara mostrou todos estes traços. O passes de Dantas, os cortes e sair a jogar dos centrais, a velocidade de Murillo, e o golo com técnica a preparar o remate de Dos Anjos.
Guimarães: médio Alfa
O Vitória teve bons momentos com o Portimonense, mas sem um nº 9 com golo (o melhor, indisponível, será Estupiñán) e com o meio-campo dinâmico mas com pouca profundidade interior, perdeu um jogo onde foi melhor. Para essa ação ofensiva constante foi decisivo o "nº 6 pivô-pressionante" Alfa Semedo. Um belo regresso aos nossos relvados. Mais maduro (23 anos), recupera bolas, usando o físico, e come metros a seguir, com técnica e remate. Um bom ponto de partida num onze ao qual falta nº 9 e segundo-avançado.
Paços: a mudança
É das equipas que, mesmo mantendo o sistema (4x3x3, agora na variante em duplo-pivô preferencialmente em 4x2x3x1) mais pode ter mudado o seu modelo de jogo. Em vez da construção apoiada com Pepa, o Paços Ferreira de Jorge Simão surge agora a construir circulando por trás e depois procurando a profundidade rápida, metendo por isso mais passes longos (nos quais se destaca Eustáquio) para os avançados, onde os alas (Lucas Silva-Delgado) surgem a jogar/romper desde trás mais por dentro. O jogos com Larne, na UEFA, e Famalicão, Liga, mostraram este novo "estilo castor", competitivo e com o eterno Luiz Carlos a encher o meio-campo.
André Franco: bom Estoril
O Estoril de Bruno Pinheiro mantêm a identidade de jogo, gostando de ter a bola a construir, que trazia da II Liga. Venceu em Arouca e no centro das operações apoiadas a meio-campo, a confirmação do bom futebol de André Franco. Com 23 anos, é um médio-interior ofensivo que, mais na meia-esquerda, decide bem o passe, tabela e movimentos de rutura. Toda a equipa se associa bem em 4x3x3 mas com Gamboa e Rosier em missões mais de compensação, é Franco que pega no jogo (e bola) e acende as luzes para atacar.