VELUDO AZUL - Um artigo de opinião de Miguel Guedes
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Que Francisco Conceição é uma mistura de quebra-cabeças e de repentista, capaz de moer e fazer estragos pela persistência, assim como de entrar em campo, saído do banco, com a força de um maremoto, já era algo que constava dos livros de como um jogador pode dar a volta a um jogo. Arrastando a equipa, colocando-a a sonhar com um remate de magia ou com o ímpeto destemido de uma seta letal. Com um olho na bola e outro na baliza, Francisco cresceu tanto nos dois últimos anos que só mesmo a impossibilidade de voltar tranquilo ao FC Porto trama o que seria um regresso à sua casa, “update” de qualidade capaz de transformar e subir um patamar no futebol da equipa. O golo de Conceição na Seleção não foi só um lembrete dos golos do seu pai contra a Alemanha. Foi uma nota para a falta de memória ou apagão: é um jogador do FC Porto.
Enquanto espera por aqueles que regressarão das seleções, a preparação do FC Porto para o Mundial de Clubes já conta com um reforço sonhado e que, não serão muitas as dúvidas, pode mesmo mexer com a dimensão coletiva da equipa de Martin Anselmi. Neste sistema apátrida no Dragão, a presença de um “box to box” desta qualidade, retirado por vontade própria do foco europeu quando decide rumar à Arábia Saudita em 2023, a contratação do galego Gabri Veiga é quase um regresso a casa pela proximidade geográfica. O dilema do treinador pode começar agora, obrigado que está a jogar com ele, imperativamente, haja o que houver. O esforço de André Villas-Boas em o contratar antes do Mundial de Clubes não permite que não seja opção e, a verdade não é outra, a equipa não tem por onde piorar. Mas esperar que faça a diferença já no Mundial de Clubes será uma espada afiada que ninguém quererá desembainhar. O máximo que se poderá esperar serão os primeiros sinais de uma dupla definitiva de meio-campo com Alan Varela.
O que se pode prever e como se podem gerir atletas com marca de água e, neste caso, com a marca de Dragão. Na diferenciação, não há outro como Vitinha. Com uma época esplêndida, embalou um campeão europeu sem galácticos e mostrou, frente à Alemanha, como não pode deixar de ser primeira opção onde quer que esteja. Agora que a gestão física foi feita e que, felizmente, fomos a tempo de acabar na final, que não haja invenções na abordagem do jogo contra a Espanha. Contrariando, no fundo, a reescrita do lema da História: o futebol são 11 contra 11 e no fim ganha a Espanha.