PASSE DE LETRA - Artigo de opinião de Miguel Pedro.
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1 Para além da vertente estritamente desportiva - mas com uma relação importante com ela - a gestão financeira da SAD bracarense continua no bom caminho.
Com a venda de Fransérgio ao Bordéus e de Luther Singh ao Copenhaga, os valores dos encaixes pecuniários esta época atingem os 20 milhões de euros, com um saldo positivo de 16 milhões, se contarmos com os cerca de 4 milhões despendidos com aquisições de jogadores.
O equilíbrio entre vender jogadores e manter a competitividade da equipa é sempre um exercício difícil e nem sempre conseguido, mas penso que este ano, em particular, as opções têm sido muito boas. As saídas de Esgaio e Fransérgio (que foram jogadores indiscutíveis na passada época), e que valeram mais de 10 M€, estão devidamente compensadas por jogadores de qualidade e a estabilidade financeira é, como sabemos, meio caminho andado para o sucesso desportivo.
2 As consecutivas derrotas contra o Sporting deixaram os seus traumas na comunidade de adeptos, atravessada por uma sensação de "inconseguimento" (Assunção Esteves, ex-presidente da Assembleia da República, merecia um Pulitzer só por ter cunhado este termo). Na tentativa de arranjar um antídoto contra a pandemia vitoriosa dos leões face aos guerreiros, uns dedicam-se colocar a ênfase nos árbitros, outros num ou noutro jogador, alguns no treinador, etc. O costume. Eu dedico-me a analisar a narrativa discursiva dos treinadores. Rúben Amorim utiliza amiúde a frase: "Fomos superiores ao Braga, pois pressionámos bastante e obrigámos o Braga a bater bola, impedindo-o de jogar". Para Carvalhal (como para a maioria de nós), a superioridade afere-se, geralmente, pelo número de oportunidades criadas. Mas para Amorim, ser superior é pressionar alto e obrigar o adversário a bater a bola...E, de facto, o Sporting é a equipa que, em Portugal, melhor utiliza a pressão alta, pois fá-lo quase como se de uma marcação "homem-a-homem" se tratasse, e não com marcação "à zona".
Amorim tem a ideia de que o fundamental é impedir o adversário de jogar, destruir o seu futebol, e esperar pelo erro, sabendo que a sua equipa tem jogadores com qualidade de finalização suficiente que lhe asseguram que precisará de poucas oportunidades para marcar um golo. Em Braga, no último jogo, rematou 3 vezes e marcou 2 golos. O antídoto para a vitória estará em perceber os processos subjacentes a este niilismo de Amorim e tentar ultrapassá-lo. E, como ensina a história do pensamento, o niilismo só se supera se nós próprios nos tornarmos niilistas.
3 Num jogo de grande carga emotiva e competitiva, o Braga assegurou, em Moreira de Cónegos, mais uma vitória "fora de portas", o que, nesta transição de ciclo (como lhe chamou Carvalhal), só pode significar que a equipa não perdeu muito do seu carisma e personalidade. O jogo contra o Moreirense não foi sempre bem jogado, mas foi um daqueles jogos que agradam aos adeptos. E o golo nos momentos finais de Ricardo Horta, o herói/guerreiro que não trocou o clube por muitos dólares americanos, exacerbou ainda mais a carga emotiva do jogo, já bem acentuada com o golo do regressado Iuri Medeiros. Temos equipa.