SENADO - A opinião semanal de José Eduardo Simões.
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As notícias continuam a centrar-se sobre a enorme diminuição de receitas dos clubes e em particular dos tubarões.
As 5 grandes ligas terão perdido mil milhões de euros em 2019/20 e nesta época caminha-se para um buraco global de 2 mil milhões.
Por cá, mesmo sem estudos aprofundados nem auditorias sérias (clubes e Liga preferem que os Relatórios e Contas de gerência anuais, que em qualquer país sério são públicos e amplamente publicitados, sejam guardados a sete chaves, sabe-se lá por que razão...), lançam-se números da ordem dos 250 a 300 milhões de receitas a menos por época. Lá fora, continua o braço de ferro entre os maiores dos maiores, que querem fazer uma super competição europeia só para eles, com receitas de milhares de milhões a serem repartidas pela turma de Florentino e Agnelli, e a UEFA e FIFA ameaçam com sanções pesadíssimas sobre clubes e jogadores, com aqueles a serem excluídos das provas que ambas as entidades organizam e estes a não poderem figurar nas convocatórias das respectivas selecções em europeus e mundiais.
Neste jogo de sombras, a UEFA acaba por fazer o jeito e aumentar os já muito elevados prémios da Champions, e continua a moldar esta prova no sentido de quase só incluir clubes de Inglaterra, Espanha, Alemanha, Itália e França, compondo o ramalhete com uma ou outra agradável surpresa portuguesa, holandesa, russa ou ucraniana, só para mostrar que também pratica uma espécie de democracia. Os interesses dos poderosos estarão assim acautelados, pois a Champions será rapidamente convertida na Super Liga, a Liga Europa na liga da 2ª divisão, enquanto a prometida nova competição fica reservada aos clubes das 3ª divisões europeias.
Por cá, vemos a democracia do formato da Taça da Liga (quem queria menos jogos sensaborões e as meias-finais para Benfica, Porto, Sporting e Braga está de parabéns); na meias da Taça de Portugal surge o intruso Estoril em vez de um Sporting que se esqueceu de cumprir o seu papel (mas ganhar o campeonato compensaria tudo e mais alguma coisa); e na I Liga temos os habituais à frente, numa semana em que se ficou a saber que o fumo branco da centralização dos direitos televisivos é afinal, uma mão cheia de coisa nenhuma, pois a tal sociedade a criar entre FPF e Liga para esse efeito vai-se fartar de trabalhar para que, até à época 2027/2028, esses direitos sejam centralizados. Sinceramente, é só isso?
Em 2015 e 2016 a generalidade dos clubes assinou, ou com a Altice ou com a Sportinvest (até 2018) e a NOS (a partir daí), novos contratos de cedência de direitos televisivos, serviços complementares publicitários e de plataformas de distribuição. Por imperativo legal, esses contratos não podiam, e continuam sem poder, ter prazos superiores a 3 anos. Daí que os textos surgem com blocos de 3 épocas que podiam, ou não, ser renovados por acordo entre as partes. A maioria desses acordos, com a respectiva renovação, termina no final desta singular temporada 2020/21. Outros, em menor número, serão renovados (ou não) no final da próxima temporada. Estranha-se muito, por isso, que FPF e Liga venham com grandes parangonas anunciar a centralização desses direitos com uma antecedência que pode chegar aos 7 anos. Com os interesses instalados, isso significa que vamos mesmo esperar 7 anos, permitindo os responsáveis que as actuais desigualdades, tão profundas que nem a curva de Lorenz e o índice de Gini das assimetrias económicas conseguem retratar devidamente, persistam e cavem mais distâncias entre os clubes. Se a FPF e a Liga queriam defender os interesses de todos, o nivelamento da repartição de receitas e a melhoria da competitividade desportiva, não prestaram um bom serviço. Ou a centralização arranca na época 2022/23, ou não passará de papel que vai terminar no lixo em 2027. Vale uma aposta?