O que Rúben Amorim fez com Nuno Mendes, Inácio e Tiago Tomás quebra as regras de uma maneira formidável, mas não as anula. Formar jogadores para um campeão exige visão e tempo.
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Se perguntassem a um adepto do FC Porto, quando Bruno Costa foi dispensado, se Sérgio Conceição estava a cometer um erro, não tenho dúvidas de que a maioria reagiria com indiferença, como reagiu com indiferença quando Sérgio Oliveira foi resgatado ao mesmo Paços de Ferreira.
O jogador da formação consome-se como um fósforo, porque a imaginação do adepto, esse intransigente defensor da prata da casa, dura mais ou menos esse tempo. Se não fez um malabarismo nos primeiros dez minutos, a atenção passa ao número de variedades seguinte. A imaginação do treinador (e dos clubes) não pode ter uma longevidade tão curta.
A minha maior perplexidade a respeito deste Sporting de Rúben Amorim é como ele conseguiu, num esfregar de olhos, afirmar não um, nem dois, mas três jogadores com menos de 19 anos na equipa principal, qualquer deles de forma quase automática e já artilhados de raiz com a personalidade certa. Tirando, talvez, Gonçalo Inácio, nem sequer tinham sobressaído por aí além no percurso formativo. Mesmo que tivessem falhado o título, seria um êxito impressionante de Amorim, porque não é assim que a formação funciona - e a prova disso é que nunca se falou de títulos em Alvalade: a ideia era sacrificar o menos possível da época para ganhar jogadores e uma equipa. No Dragão e na Luz (talvez no Sporting, a partir de agora), as épocas não são sacrificáveis.
A imaginação tem de ser a longo prazo, como aconteceu com Bruno Costa - que foi preciso empurrar para fora do ninho - ou com João Mário, trabalhado na sombra durante um ano para um posto (lateral direito) em que o treinador o julgava capaz de vingar. No Benfica, encontramos o benefício da dúvida nas idiossincrasias de Jorge Jesus, à medida que vamos percebendo o destino de titulares precoces (talvez até à força) como Florentino, Ferro ou Gedson. Nunca saberemos onde esteve o mal.