Um bando de aldrabões aos quais, já agora, ela própria continuará a querer pertencer duas vezes por semana, para descomprimir. É o que tem protegido (se disso se pode falar) a modalidade.
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A ver se eu percebo: a PJ deteta indícios de corrupção no Benfica, mas o Benfica já foi ilibado nas instâncias desportivas; houve um murro no Belenenses SAD-FC Porto, há até um vídeo para demonstrá-lo, mas não serve para efeitos probatórios; o Sporting foi palco de um ato terrorista, mas o julgamento de Alcochete pode condenar quem condenar que o clube não sofre mais do que já sofreu; afinal, os insultos racistas a Marega ainda não foram sancionados, mas, de qualquer modo, o V. Guimarães dificilmente incorrerá em punições de monta - mesmo interdições -, porque, para isso, teria de ter estimulado os adeptos a chamar nomes ao jogador.
É assim? Então, o que devemos esperar desta megaoperação contra a fraude fiscal a que as autoridades deram o apropriado nome de "Fora de jogo"? Eu arrisco: justiça civil q.b., justiça desportiva nenhuma.
Ou, como diria Abel Xavier: "O próprio nome está a dizer "fo-ra-de-jo-go". O que é jogo havia de ter que ver com isso?" Porque, no futebol português, é realmente assim: foi uma claque, foi uma mão que não se vê no vídeo, foi um empresário, foi a SAD mas não o clube, foi o clube mas não a SAD, foi um presidente - e arquive-se.
Pois eu continuo a achar que, enquanto nada disto doer aos clubes de um modo que doa aos sócios e adeptos também, nada feito. Enquanto isto não se cruzar com a paixão, enquanto não a afetar, enquanto não tiverem de ser os sócios e adeptos a exigir outro comportamento - outra conduta, outra gestão, outra dignidade - ao seu clube, a sociedade continuará livre para olhar o futebol como um bando de aldrabões.
Um bando de aldrabões aos quais, já agora, ela própria continuará a querer pertencer duas vezes por semana, para descomprimir. É o que tem protegido (se disso se pode falar) a modalidade.
Para já.
