A verdade é que as atividades desportivas ainda não recuperaram dos cortes de financiamento da época da Troika
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O Desporto vive, há demasiado tempo, assente no esforço das famílias portuguesas. São pais, mães e clubes locais que asseguram, com dedicação e sacrifício, a formação e o crescimento de milhares de jovens atletas, mantendo viva a atividade desportiva nos clubes e federações. O financiamento público, por sua vez, depende quase exclusivamente das receitas dos jogos da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, criando uma dependência extrema e frágil. Neste sentido, o país precisa de diversificar as fontes de financiamento no Desporto, canalizando para o setor uma parte mais justa das receitas fiscais do Estado.
Enquanto o Governo se prepara para rever o regime de mecenato da Cultura, o Desporto continua à espera de ser tratado com a mesma dignidade. O mecenato desportivo é um instrumento essencial para atrair investimento privado e criar sustentabilidade no setor. É tempo de modernizar a legislação, clarificar o conceito de donativo e criar um quadro que estimule empresas e particulares a apoiar o Desporto sem entraves burocráticos.
A verdade é que as atividades desportivas ainda não recuperaram dos cortes de financiamento da época da Troika. As federações mantêm viva a prática desportiva com orçamentos reduzidos, muitas vezes à custa do trabalho voluntário e da paixão de quem acredita no poder transformador do Desporto, o que compromete a competição e o futuro dos nossos atletas.
Por isso, as propostas apresentadas pela Confederação do Desporto de Portugal e pelas Federações desportivas para o Orçamento do Estado de 2026 chegam em boa hora. São medidas concretas para reforçar o apoio público, modernizar o enquadramento fiscal e reconhecer o desporto como um bem público essencial. É tempo de agir: diversificar o financiamento, permitir às famílias deduzir como Saúde as despesas com a prática desportiva em IRS, equiparar o mecenato desportivo ao cultural e devolver ao Desporto os recursos que lhe foram retirados. Só assim, ao investir verdadeiramente no Desporto, o país estará a investir no futuro.
Luís Arrais
Presidente da Federação de Ginástica de Portugal

