VELUDO AZUL - Um artigo de opinião de Miguel Guedes
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Após mais uma hecatombe, histórica e tristemente previsível, a semana no Olival começou com um estágio antecipado, decidido como um murro na mesa presidencial e com jogadores enviados sem pré-aviso a assinar uma nota de culpa que não tinham. Contra o Benfica, num resultado que se assemelha a um outro com 50 anos de idade, não faltou atitude, faltou futebol. Uma equipa perdida e sem rumo, enfiada num túnel táctico sem fim à vista e sem protagonistas que o traduzam em algo que possa ser competitivo contra qualquer equipa sólida e construída. Nada que não se esperasse, embora num clássico tudo fosse possível. Mas, após o jogo, fica a ideia de que o resultado é histórico, a exibição é trágica e que o Benfica podia ter construído um resultado semelhante àquele que várias vezes conseguimos num salão de festas.
Por mais superiores que fossem as equipas encarnadas e mais anónimas as equipas azuis e brancas, uma coisa é certa: o Benfica entrava sempre nas Antas ou no Dragão a tremer, a antecipar uma raça portista que não conseguiria controlar. Esperavam o pior. No domingo passado, o adversário entrou em ritmo de passeio e marcou na primeira abordagem, numa espécie de erros evidentes em cromos repetidos na mesma caderneta, certeza da confusão que grassa numa defesa a três com Eustáquio a fazer o que pode para se adaptar a um lugar que não é seu e o retira do que melhor pode e sabe fazer. O regresso de Marcano não é a solução suficiente para competir contra equipas maduras e competentes. O FC Porto não entrou a perder, perdeu-se na porta de entrada e tudo o resto foi uma lástima. Apesar de não espantar que treinador e jogadores fossem contra o castigo presidencial, não deixa de constituir surpresa que uma decisão do presidente possa ser contradita em sede de balneário. Felizmente, tivemos capitães à altura para travar aquilo que seria o fim da época em toda a linha.
A sede de vingança frente ao Casa Pia é um lugar-comum agressivo para “o próximo que pague as favas”. No bolo, saiu o brinde maior, Rodrigo Mora, com um golo de antologia e génio, daqueles repentismos só ao alcance dos predestinados, sobretudo quando se tem a intuição de fazer algo assim no limite da pequena área adversária. Tudo certo se houvesse algo mais. E o mais que se sentiu foi uma equipa junta, a querer reagir, a pressionar alto. Pouco, mas melhor do que o sentimento da semana augurava. E a confirmação. Sentiu-se, uma vez mais, que os jogadores não têm culpa alguma. A culpa não morre solteira, mas de certeza que também não morre em campo.