O raio-X de Luís Freitas Lobo a FC Porto e Benfica antes do duelo da Supertaça.
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O FC Porto tem, de origem e pelo trabalho tático específico feito com eles, médios mais cultos tacticamente.
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Para além da dupla referida em texto ao lado (Uribe-Sérgio Oliveira), um jogador marca hoje a diferença entre as duas equipas nesse duelo de equilíbrios-desequilíbrios que ambas sentem no meio-campo: Otávio. Ele é quem melhor consegue abrir o jogo a atacar, quase como um ala, como depois equilibrar no corredor central, no espaço n.º 10. Tanto faz isso de raiz (em 4x3x3) como numa troca posicional em pleno jogo (fazendo o sistema variar rapidamente de 4x4x2 para 4x3x3 e vice-versa). Ele é o melhor projeto táctico-individual de todo o reinado de Conceição no FC Porto.
O Benfica já teve, aproximadamente no estilo (salvo diferenças individuais), um jogador que fazia quase o mesmo: Pizzi (puxado então para a ala com essa intenção mutante de sistemas para equilibrar rapidamente a equipa em compensações). Sucedeu com Rui Vitória.
Otávio é quem melhor consegue abrir o jogo a atacar e depois equilibrar no corredor central
Já vimos Jesus tentar resgatar um pouco essa ideia (como no último jogo com o Gil Vicente) mas não é um princípio de jogo que treine/mecanize para aquela posição. No seu conceito, o terceiro médio ou existe de raiz (e então faria um meio-campo com um n.º 6 e dois interiores) ou então dificilmente surge com precisão táctica em trocas posicionais. Não tendo Pizzi, pode ser Chiquinho mas sem igual cultura de movimentos de compensação.
Por isso, se tivesse de dizer um jogador que hoje marca tacticamente a diferença entre a inteligência táctica mutante em campo das duas equipas, diria, sem dúvida, Otávio. Com ele, o FC Porto fica superior. Sem ele, os problemas colectivos aproximam-se da tipologia táctica dos encarnados.
O ataque: um ou dois pontas-de-lança?
No processo ofensivo, as diferenças são mais marcadas pelos jogadores do que pelas ideias dos treinadores para esse momento do jogo (quer em ataque organizado-posicional, quer em exploração da profundidade em ataque rápido/contra-ataque).
Existem, em ambos os lados, extremos de "um-para-um" e velocidade com remate (Corona-Luis Díaz contra Everton-Rafa) mas dos pontas-de-lança que podem surgir no centro, só o FC Porto tem um que pode jogar aberto desde a faixa (Marega). Isso dá, desde logo, mais opções de desenhos táticos (para o plano inicial ou mexer durante o jogo).
Neste clássico, porém, vendo como Conceição privilegia a dimensão física para a posição n.º 9, é natural que Marega surja a ponta-de-lança (até porque Taremi ainda está longe de atingir o conceito de "agressividade táctica de jogo" que o modelo-Conceição exige). Por outro lado, Marega é o avançado que melhor defende (um monstro na transição defensiva) e isso é hoje capital perante o decréscimo de pressão colectiva da equipa.
No caso do Benfica, a dúvida situa-se sobretudo em jogar com um ou dois pontas-de-lança. Optando por Darwin-Seferovic, necessita que ambos também pressionem a saída de bola (primeira fase de construção) portista, mas, nesta estrutura, a questão do "jogo partido" e da raiz dos problemas tático-defensivos do "meio-campo a dois" irão tornar-se, por princípio, mais evidentes.