Fatores irrelevantes e quem vai para a cama com quem!
APITADELAS - A crónica semanal de Jorge Coroado em O JOGO
Corpo do artigo
Nos primórdios da minha carreira de árbitro, percebi limitações e condicionalismos existentes na atividade.
O dirigismo da arbitragem vive na ignorância dos seres celestiais, inteiramente alheado do solo que se propôs calcorrear
Quatro décadas volvidas, que produziram mais história do que aquela que uma pessoa tem capacidade para digerir, pode concluir-se que, apesar das mudanças introduzidas - criação de "academias", adoção de tecnologias -, e analisadas as circunstâncias que rodeiam a classe, apesar de se saberem os "ingredientes" e sendo conhecida a "fórmula", quando combinados os dois, não flui calor, luz nem centelha. Falta algo.
A década de 90, com o advento da Liga como responsável pelas competições e pelo "específico sistema da arbitragem" do futebol profissional, foi lampejo de mudança, porém rapidamente se desvaneceu.
Porque "o homem vive não só a sua vida pessoal na qualidade de indivíduo, mas também, consciente ou inconscientemente, a vida da sua época e dos seus contemporâneos" (Thomas Mann), as mudanças protagonizadas por aquele organismo, nomeadamente retribuição aos árbitros, também aos dirigentes, depois transportadas para o seio do CA da FPF, promoveram ambições propensas a desconsiderar questões relativas ao conhecimento efetivo e concreto das leis e regulamentos, capacidade formativa e de "passagem de informação".
Algo que deveria constituir preservação de marcos históricos tornou-se aspeto irrelevante. Capacidade pedagógica e independência intelectual são fatores irrelevantes!
11659115
Capacidade para isso?
A arbitragem é algo que jogo a jogo se renova. A introspeção feita pelos árbitros, a análise global pelos dirigentes, após qualquer jornada, deveria responder auspiciosamente a muitas questões dos mais diversos agentes. Estará a bem "instalada" classe dirigente do sector disponível para esclarecer as dúvidas que povoam a mente dos amantes da modalidade? Terá capacidade para isso?
Quem vai para a cama com quem!
O dirigismo da arbitragem vive na ignorância dos seres celestiais, inteiramente alheado do solo que se propôs calcorrear. Talvez tenha essa perceção. No entanto, não se mostra incomodado. O objetivo primordial é manutenção e renovação do estatuto. O problema é quando, em período pré-eleitoral, há quem, bebendo um copo, não se mostra avesso a contar "quem vai para a cama com quem".