PLANETA DO FUTEBOL - A análise de Luís Freitas Lobo.
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1 - Dois empates e a decisão do quinto lugar fica suspensa para a derradeira jornada. Famalicão e Rio Ave sustêm a respiração.
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O último jogo pode valer a sedução da Liga Europa (e seus milhões) se passados os alçapões das pré-eliminatórias. É um lugar ainda a bater à porta do topo da classificação (o "castelo privado dos grandes") mas que, repassando ao que fui vendo nos nossos relvados ao longo da época, pode valer o título virtual no que gosto de chamar do "campeonato das ideias de jogo" (mesmo que só eu veja esta "competição").
Ou seja, numa frase: estas foram as duas equipas que mais gostei de ver jogar ao longo da época. Cada qual com as suas armas, João Pedro Sousa e Carvalhal congeminaram modelos de parentesco estilístico próximo na relação com a bola e intenção de pressionar para jogar (e nunca, o que é muito diferente, de jogar para pressionar).
Na luta pelo quinto lugar europeu Famalicão-Rio Ave, vejo o título virtual do "campeonato das melhores ideias de jogo"
2 - Os sistemas diferem na ocupação das linhas dos diferentes setores. O Famalicão quis sempre só ter um único pivot: o "sair a jogar" de Gustavo Assunção, qualidade intocável. O Rio Ave buscou somar mais um n.º 8 (o "corre-caminhos" avança-recua-avança Tarantini). Nessa tarefa, o Famalicão foi desde o toque de Guga para o poder mais físico metido na técnica de Racic, soltando Pedro Gonçalves para um 10 rompedor-criativo. A n.º 6, o Rio Ave foi desde Filipe Augusto até Al Musrati, um "projeto de William Carvalho líbio" com técnica de passe a escolher bem o flanco onde meter a bola mas que precisa de aumentar a intensidade de jogo, que encolhe quando sob pressão (acrescentando passes verticais e interceções, fazendo menos faltas). Para n.º 10, tem desde Diego Lopes (que também sabe pegar jogo atrás como n.º 8 de criação) ou Piazón (que, se quisesse, tinha tudo para ser craque de elite). Gelson Dala evoluiu muito.
3 - Com craques-desequilibradores nos flancos (Nuno Santos-Mané contra Diogo Gonçalves-Fábio Martins) o lugar de n.º 9 tem duas das melhores espécies do campeonato: da agressividade com remate de Toni Martínez à inteligência em tudo o que faz, até... rematar, de Taremi.
Onde noto um setor superior é na defesa do Rio Ave que, com melhores jogadores, soube criar de um "sistema a 3" alternativo (com Mateus Reis a crescer muito, desde lateral de corrida a jogar bem como central à esquerda). O Famalicão teve demasiados problemas defensivos que os... defesas não resolveram (sentiu-se a quebra de Nehuén Pérez). Os últimos jogos revelaram estas duas facetas.
Duas equipas com marca de treinadores mas sublimes na qualidade técnica (que deu valor às táticas) dos jogadores de ambos os onzes. Bom futebol é isto!