PLANETA DO FUTEBOL - O problema agora é mesmo no campo. Como jogamos, intensidade, ideias, jogadores, mentalidade, tudo. Até como comentamos. Pensem nisto!
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1 - Uma eliminação europeia conjunta como a desta semana na Liga Europa suscita os debates mais dramáticos sobre o futebol português. Sinto a pancada, mas as coisas devem ser devidamente enquadradas.
Estas equipas/jogadores têm capacidade de fazer muito mais internacionalmente
Não é um problema (como outros) da estrutura institucional. Falar do presidente da Liga ou Federação nesta altura não tem sentido (eles são alvo natural é noutros debates). Nem sequer falar do clima bélico que domina a comunicação.
Não, lamento, isto é "só" futebol mesmo. No campo e, fora dele, no sentido da forma deficiente como muitos clubes são geridos, escolha de plantéis, política desportiva, estrutura do futebol, etc., até às equipas (como jogam e reagem ao jogo) jogadores e treinadores propriamente ditos.
2 - Os "habitats de crescimento" de campeonatos como o alemão (concordo que é o mais forte do mundo) ou até, por incrível que pareça, o escocês e turco, têm um nível competitivo muito superior (na intensidade de jogo com permanente agressividade tática em cima da bola/espaços) aos 90 minutos-sonâmbulo, com tantas paragens, dos jogos do nosso campeonato. Os mesmos jogadores que jogam cá quando vão para fora têm logo o dobro da intensidade. Isto é problema dos intérpretes diretos no jogo.
Cada jogo desta eliminatória teve a sua história. Já falei da questão tática do Braga (o sistema a "3" que não contempla a variante do terceiro-médio) e de como o FC Porto se perdeu após perder o plano inicial com a lesão de Luis Díaz (era fácil criticar a opção a "3" da segunda parte mas não o faço porque na altura, embora tendo falado noutra, pareceu-me uma ideia arriscada mas bem estruturada e, de certo, treinada. Correu mal, é futebol).
3 - O Benfica não soube gerir vantagens no seguimento de lacunas táticas de organização/transição defensiva já reveladas nos jogos internos (mas que a dimensão internacional do Shakhtar brasileiro não perdoou). O Sporting, pura e simplesmente, não existiu na Turquia. Nem consigo analisar taticamente o jogo porque, tirando momentos da segunda parte, a equipa nem sequer saiu mentalmente do balneário.
E um aspeto acho preocupante. A naturalidade com que se aceita isto. Desde aceitar pacificamente a superioridade alemã (quando, há pouco, o mesmo FC Porto venceu o Leipzig) e o sono profundo leonino (a lutar internamente contra "moinhos de vento").
Estas equipas/jogadores têm capacidade de fazer muito mais internacionalmente. Este não é o nosso lugar, nem Leverkusen, Basaksehir, Shakhtar ou Rangers são mais fortes do que os nossos quatro maiores clubes/equipas. Eles é que, cada qual pelas suas razões/circunstâncias, se tornam pequenos perante eles. Tão desolador como natural. É o que sinto.
Luís Castro sente, no banco, que também joga
Controlar os danos
Luís Castro está a viver intensamente a sua experiência no Shakhtar. Conheço-o bem e nas suas reações no banco, como festeja golos, dá instruções ou se lamenta por erros, está... inteiro, porque se "sente treinador". Mexe na equipa e com isso ela muda. Sente que ele também joga.
Este Skakhtar tem já uma história feita em termos de estilo de jogo e política desportiva que é de leste na defesa e sul-americana no meio-campo criativo e ataque. Por isso, tanto vive com o poder físico de Stepanenko, trinco que corta e costura, como depois com a truculência de Taison a meter velocidade com bola. Não é só ser rápido. É ser inteligentemente rápido.
Mesmo com estes traços para atacar, soube, na Luz, fazer algo fundamental no pior período da equipa quando a eliminatória fugia: controlar os danos. Ou seja, saber baixar o bloco como estratégia (e necessidade) para depois dar passos em frente com a maior segurança construída atrás. Assim, foi do 3-1 ao 3-3 e acabou tranquilo depois de estar atormentado. Isto é maturidade tática (da técnica e da mente).