Fábio Vieira busca o protagonismo com suavidade, intencionalidade e classe. Mas (já sabe) vai ter também de correr para trás a defender. Como os grandes.
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1 - É um "filme táctico" já visto pelo FC Porto de Conceição: o desafio ofensivo de defrontar sistemas defensivos com três centrais. Sinal de respeito à dupla de pontas-de-lança Soares-Marega, mais em cunha ou móvel (com Marega a cair na faixa e Otávio flectir para nº 10).
De repente, Helton Leite saiu mal, largou uma bola inofensiva, chocou contra André Almeida e este, com baliza aberta, marcou. Não é preciso treinador para explicar isto.
No Belém de Petit, essa defesa a "5" é já habitual. Todas as movimentações do sistema portista são já a pensar nestas densas plantações defensivas adversárias. Aqueles dois nº 9 são ambos potentes, mas procuram não abusar desse traço quando têm de enganar as defesas mais fechadas ou atentas. Por isso, o segundo golo (o chamado "golo da tranquilidade"), em que Soares se "fez de morto" para induzir a defesa azul de que a jogada tinha acabado por ele estar fora-de-jogo, tinha a "ratice" de deixar vir desde trás, subtilmente, outro "carro de assalto", Marega, para se isolar e marcar.
A libertação mental dos jogadores leva à simplificação do que fazer em cada jogada. Deixam de sentir que têm de mudar o jogo em cada uma delas, para apenas resolver esse lance em concreto. Mesmo que (no fim) ele venha a ser o mais decisivo o jogo.
2 - Fábio Vieira vai converter-se num dos craques do futuro (próximo) onze do FC Porto, mas o seu primeiro golo na primeira equipa teve a cumplicidade de quem manda nesta em campo (Alex Telles). Deixou-o marcar um livre que, pela hierarquia, era dele. A forma como, depois, Conceição abriu os braços, sorrindo, para Alex Telles seria mais para lhe dizer "agora, vais ter de o deixar marcar mais vezes". Fábio Vieira busca o protagonismo com suavidade, intencionalidade e classe. Mas (já sabe) vai ter também de correr para trás a defender. Como os grandes.
3 - O início do jogo, com a equipa assustada, presa de movimentos (deixando o Boavista pegar na bola e jogo) até ameaçava mais do que os anteriores que ditaram a queda de Lage. De repente, Helton Leite saiu mal, largou uma bola inofensiva, chocou contra André Almeida e este, com baliza aberta, marcou. Não é preciso treinador para explicar isto. Muitas vezes, estes lances é que os salvam quando estão com a corda no pescoço. Lage não teve nada disso. O que lhe podia correr mal, corria... pior. Agora, sem ele, o destino quis outra coisa mesmo com um onze decalcado dos que jogaram antes. É anda impossível calcular os efeitos da falta dum plano de controlo de danos nos últimos doze jogos. Este Benfica tem mais quatro jogos para gerir e uma final da Taça para disputar/ganhar. Qualquer treinador pode parecer agora mais sábio mas, nesta fase, a equipa é só dos jogadores. São eles que darão as ultimas respostas da época. Veríssimo apenas sabe que irá dando os treinos.
Os jogadores deixaram de sentir que têm de mudar o jogo em cada jogada. Só têm de resolver cada lance, mesmo que (no fim) ele seja o mais decisivo
Vítor Oliveira: resolvido
O Gil Vicente atingiu a permanência num jogo em que, após fechar toda a segunda parte, Vítor Oliveira explicou, no fim, as três razões que legitimam fazer antijogo (chamou-lhe "perder tempo"). São: estar a ganhar, estar em inferioridade numérica e o adversário ser melhor. Podia, disse, juntar uma quarta: precisar muito de pontos. São ensinamentos vindos das catacumbas do "velho testamento" do futebol. Ou, então, de Woody Allen, que no filme "Poderosa Afrodite" foge duma briga e a namorada, indignada, diz-lhe: "não posso acreditar que sejas um cobarde". A resposta: "Na verdade, sou, mas só em casos concretos".
André André: carácter
A construção duma equipa faz-se com boa política desportiva, talentos e treinador com boa ideia de jogo, mas há algo que transcende tudo: carácter. É por isso que muitos jogadores se tornam mais importantes, decisivos, mesmo existindo outros com mais potencial ou qualidade. É o que sinto vendo André André de volta ao onze do Vitória. Em tese, existem soluções (talentos) melhores. Na prática, é o seu carácter que é melhor para a equipa. Jogo, raça e até para abraçar o treinador no fim.
Richard Rodrigues: potencial
Muita qualidade técnica, com controlo de bola para finta curta e invadir espaços de perigo preferencialmente desde a esquerda, embora seja destro. Com apenas 20 anos, formado no Internacional que o emprestou ao Tondela, Richard Rodrigues tem uma margem de progressão enorme, para crescer em especificidade.. Forte no um-para-um e com bom remate, precipita-se por vezes no momento da definição. Fisicamente ágil (1,76m e 70kg) sai fácil da marcação, com criatividade e baliza sempre nos olhos.
Saiu o treinador, ficou o problema, agora para ser tratado pelo "martelo" de Lito em quatro jogos.
De Pepa a Velasquez
O Paços saiu do sufoco com marca de treinador. Em Setúbal, a forma como Pepa mexeu ao intervalo ganhou um jogo que (com 2-0) parecia perdido. Em 4x3x3, tirou o médio de contenção Luiz Carlos, inverteu o triângulo, fazendo de Pedrinho nº 8 de saída (a posição onde joga melhor), puxou João Amaral da ala direita para quase 10 e abriu com o extremo mais rápido que tem (Uílton). Assim, libertou a equipa. Na esquerda, Castanheira passou a ter outro apoio para... assistir. A dominar, passou para 4x4x2 (meteu Denilson em dupla com Tanque), devolvendo J. Amaral à direita (livre para flectir) e deu toda faixa a Uílton (saiu o lateral de raiz Jorge Silva).
Virou para 2-3 e afundou um onze sadino que não regressara tactica-mentalmente dos balneários. A saída de Velasquez é a chicotada mais sem sentido da época. A equipa estava em crise de resultados, mas tinha uma ideia de jogo definida que já dera já pontos e boas exibições. Perdeu esse "foco táctico" na retoma, porque o modelo era demasiado exigente para a qualidade dos jogadores. Por isso, precisava de o reforçar/treinar todos dias. A paragem... parou o processo e a equipa deixou de andar em campo. Saiu o treinador, ficou o problema, agora para ser tratado pelo "martelo" de Lito em quatro jogos.