Existe um abismo de estilo entre a dupla Weigl-João Mário e a dupla Meité-Taarabt
PLANETA DO FUTEBOL - Um artigo de opinião de Luís Freitas Lobo.
Corpo do artigo
1 São os jogadores que fazem as posições. E não a posição que faz o jogador. É comum, no futebol (o conceito) atual feito pelos treinadores, confundir a ordem destas duas frases.
É fácil perceber qual a que está, na essência, certa quando se vê o futebol (o jogo) feito pelos jogadores.
O atual Benfica é, a partir das posições dos médios-centro (duplo-pivot do 3x4x3) ideal para perceber, na prática, esta realidade. Os jogadores, independentemente do valor que têm, também podem ser melhores ou piores, conforme aquilo que se lhes pede encaixar ou não nas suas características.
Existe um abismo de estilo entre a dupla Weigl-João Mário e a dupla Meité-Taarabt. As diferenças de interpretação das mesmas posições são de tal forma diferentes que (sem mudar o sistema) o equilíbrio, ritmo e pensamento dinâmico da equipa ficam logo diferentes.
2 Se num caso existe sentido posicional construtivo a partir da posição "6" (com Weigl) e o jogar pensando com o passe como base para fazer avançar o jogo e bola a partir da posição "8" (com João Mário), noutro existe um sentido posicional, mas essencialmente físico para travar as entradas dos adversários com o equilíbrio possante de Maitê a "6 trinco" e a sofreguidão do jogar correndo com a bola para fazer avançar a equipa e jogo (expresso no permanente desafio de Taarabt em mudar o jogo correndo tanto como a bola).
Os estilos tão diferentes destes quatro jogadores mudam a forma como "falam tacticamente" as mesmas posições e mudam o jogar central benfiquista (sem mexer no 3x4x3). Mesmo se o sistema passar para 4x4x2 esta dicotomia do duplo-pivot na dinâmica de posicionamento irá manter-se igual.
3 O impacto que João Mário criou no jogo encarnado resulta, por isso, do entrar dum jogador totalmente diferente dos demais naquela posição de "8 central". Em vez da condução anárquica em posse, o pensamento do passe com olhos colectivos abertos. É a distância de expressão táctico-técnica que vai de Taarabt a João Mário.
Claro que a escolha por um ou outro pode resultar, em primeira instância, de como se quer que o jogador dê vida a essa posição. Sinto isso, porém, quase sempre como redutor.
Mais do que a escolha pelas características, o primado que deve prevalecer é a escolha pela qualidade. Assim, o impacto de João Mário percebe-se facilmente pela visão de jogo e passe que traz ao futebol da equipa, antes incapaz de gerir ritmos e a necessidade controladora sem um elemento de "jogar pensando" como ele.
O bom futebol não necessita de presa no jogar. Necessita antes da caixa de velocidades certa (não de motor) que aumenta ou reduz conforme o que a estrada táctica do jogo pede.
A cultura táctica de Matheus Nunes
O jogar dum jogador é uma expressão individual que deve ser concebido em função do colectivo. Isto é, as características individuais são o primeira a ter em conta, mas a nível da ideia de jogo que se quer para a equipa, elas assumem papel secundário. O jogador tem de ser um elemento da construção dessa ideia colectiva.
Matheus Nunes pode dar muito ao Sporting mas ainda tem de evoluir (aprendizagem de fundamentos de jogo) dentro da teia de relações do jogar da equipa. Não é fácil separar estes dois níveis de observação. Uma coisa é ver como joga (individualmente) um jogador. Outra é ver como esse jogo rende dentro do jogo (colectivo) da equipa.
Neste desafio, é imperioso, na missão que Amorim lhe dá nesse jogar colectivo, que Matheus Nunes queira sempre a bola. Mas, atenção, mais do que a pedir, deve primeiro procurar espaços livres para a ter. É esse traço que hoje ainda o distingue (e distancia de João Mário, o elo perdido do jogar leonino da época passada).
Passar de ações no jogo para uma verdadeira cultura táctica (também de jogo) exige afinação.