A realidade do futebol feminino veio para ficar. Agora é só somar o exemplo da competência e ganhar
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1 - O inacreditável apoio dos adeptos ao futebol feminino do FC Porto, 31000 pessoas a um domingo de manhã, números recorde, é uma nova eucaristia que já não se escreve a contos cor-de-rosa. Num momento de muitas cores e cambiantes, uma certeza vem para ser escrita nos próximos anos, já que ninguém duvida que semelhante apoio e percepção só tem que encontrar o mínimo investimento para ser bem-sucedido. A realidade do futebol feminino veio para ficar mesmo que pelas exigências de paridade no mundo da UEFA. Agora é só somar o exemplo da competência e ganhar. A representatividade é sempre mais forte quando vai para além do simbólico. Mas aquela manhã no Dragão vai para além dos exemplos, já entrou para a História.
2 - Exemplar continua a ser o comportamento cívico de Mehdi Taremi em mais uma atitude corajosa perante a opressão do regime iraniano. No Irão-Quirguistão, jogo de qualificação para o Mundial 2026, o avançado insurgiu-se contra os cânticos dirigidos à selecção iraniana, apontando aos verdadeiros responsáveis do regime teocrático. “Somos iguais a vós. Não estamos separados de vós. Todos nós amamos este país. Todos queremos que este país seja bem-sucedido em todos os domínios. A culpa não é nossa, está nas mãos de outras pessoas”, referiu. São palavras que podia não ter dito, refugiando-se num silêncio cúmplice como tantos outros. Indiscutivelmente, um ser maior.
3 - Há histórias reais que parecem ser escritas pela mão de Deus, alinhavadas a pormenores que não lembram ao Diabo. A sucessão interina de Gareth Southgate na selecção inglesa caiu nas mãos de Lee Carsley, antigo internacional irlandês, que garantiu que não cantaria o hino inglês no jogo frente à República da Irlanda. Rastilho suficiente para acender a polémica, eivou o debate de nacionalismos que, tantas vezes, se alimentam do futebol para potenciar ódios e rivalidades. Num alinhamento que nem Maquiavel saberia escrever, os dois golos da vitória inglesa foram marcados por Declan Rice e Jack Grealish, jogadores que chegaram a ser internacionais irlandeses, ambos acusados de serem “cobras que estão de volta”. Notável como a realidade sabe superar a ficção.
4 - Parecendo ficção científica, tratamos de um homem real. Cristiano Ronaldo chega à marca sobre-humana que nenhum outro jogador alcançou: 900 golos marcados em jogos oficiais. Fá-lo no natural ocaso da carreira, piscando o olho aos 1000 golos, algo que entende não ser impossível. Que este desígnio individual de CR7 não seja conseguido contra os desígnios colectivos e pessoais dos outros, numa relação entre o deve e o haver cada vez mais difícil de solucionar.