PLANETA DO FUTEBOL - Um artigo de opinião de Luís Freitas Lobo.
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1 O debate sobre a escolha de Tony Martinez ou Evanilson para jogar na frente de ataque portista, com Taremi, só pode ser completo se fugir à mera análise individual de cada um, mas sim vendo os efeitos que cada um tem no jogo coletivo da equipa.
Sérgio Conceição colocou essa questão na conferências em que comparou ambos, não em função do valor individual, mas sim em função do que cada um pode dar coletivamente à equipa, até mudar a sua forma de atacar. E
Em traços gerais, Martinez ataca melhor a profundidade como referência ofensiva posicional, enquanto Evanilson joga mais em apoios para com os colegas próximos, sem deixar de ser também referencia de n º9.
A diferença, porém, na questão de "ser referência" muda, com uma simples nuance: enquanto Martinez se torna uma referência de marcação para os adversários, Evanilson assume ser uma referência de movimentação para a... própria equipa (ou seja, para os outros avançados que olham o seu posicionamento de apoio, por princípio, mais virado para eles do que para a baliza).
2 Evanilson proporciona uma maior mobilidade diagonal dos alas (Luís Diaz-Otávio) e, sobretudo, permite a Taremi jogar muitas vezes como "falso segundo-avançado" pela forma como assim recua no terreno (em jogo de fuga às marcações contrárias) e depois aparece, nos espaços abertos pelos arrastamentos de Evanilson para finalizar. Enquanto que na dupla Taremi-Martinez os dois avançados jogam essencialmente um ao lado do outro, na dupla Evanilson-Taremi joga um à frente e outro atrás (poucos metros que sejam, mas que fazem toda a diferença). No primeiro caso, o processo atacante é mais posicional. No segundo é mais móvel.
3 É interessante ver como Sarabia está, por ele próprio, a descobrir como entrar (entenda-se meter as características do seu futebol) no processo de jogo do Sporting na interligação ofensiva 2x1 em que ele entra na dupla interior que joga, com liberdade de ir em largura, em torno (não é nas costas) do ponta-de-lança (Paulinho). Neste caso de adaptação de qualidade do jogador-fundamentos de jogo, Amorim tem essencialmente só a missão de desenhar o que quer (na mobilidade do sistema) no quadro tático. A prática é do jogador e, assim, vê-se como Sarabia aos poucos vai conhecendo os espaços da casa tática comum ofensiva e mete-se neles com cada vez maior eficácia (que solta sobretudo pelas superfícies de passe que encontra e aproveita). A opção de o colocar a falso 9 (onde jogou contra Famalicão e já fez até na seleção espanhola) pode ser uma solução para outro tipo de processo ofensivo. Retirar o avançado puro por natureza e confundir o adversário com a ilusão desse espaço vazio que depois é invadido por um falso especialista goleador, mas paradoxalmente mais eficaz a finalizar.
Problema defensivo do Benfica
Mesmo com o estatuto dos seus três centrais (Luca Veríssimo-Otamendi-Vertonghen), todos com aura de líder, Jesus continua a não confiar em juntar mais de dois avançados que... não defendem. O principio para essa questão tornada limitação tática, não resulta por si só de jogar num sistema de 3x4x3 (embora seja a base), mas sim por nenhum dos laterais com que joga tem o momento de transição defensiva como ponto forte. Diogo Gonçalves, Gilberto ou Grimaldo, mais do que laterais, são alas. Se tivesse disponível por completo - fisicamente para todos jogos - André Almeida, essa equação de equilíbrio necessário entre ter a bola e a reação à sua perda (o momento de transição defensiva que leva Jesus a renegar Pizzi e Rafa juntos) ficaria resolvida porque, desde logo, jogaria com um verdadeiro defesa-lateral direito (que até sabe ser central) e que com cultura posicional defensiva até poderia permitir à equipa defender a quatro, quando necessário por sistema. Com os laterais-alas com que joga isso é impossível e obriga ou a ter um nº 6 mais posicional atrás, um em organização defensiva a defender a cinco. Por isso, considero que uma das lacunas tático-defensivas deste Benfica é raramente defender bem a quatro. Por isso, sofre tanto com contra-ataques adversários, mesmo das equipas ditas pequenas.