PLANETA DO FUTEBOL - Um artigo de opinião de Luís Freitas Lobo.
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1 Soube-se que aquele desacordo entre Jesus e Luisão (e com o diretor de futebol), após o fim do jogo com o Dínamo Kiev, terá sido mesmo para convencer o treinador a ir junto com os jogadores ao centro do relvado saudar os adeptos.
Ao invés, ele pretendia ficar à parte. Compreendi a atitude. Existem momentos em que um treinador deve entender como saber usar a seu favor o lado solitário da sua existência.
Há razões para debater as opções tático-técnicas de Jesus esta época (desde a cristalização do sistema de três centrais que prende a equipa até à indefinição em compor o melhor ataque), mas é fácil perceber que toda esta onda de contestação antecede (e nem sequer perceciona) essas questões. O seu regresso fraturante (no mundo encarnado interno), a forma como se colocou acima da realidade (o seu ego é o seu principal inimigo) de um clube que não soube então gerir o momento difícil que atravessava, sobredimensiona a contestação. Não entendo, porém, os níveis (e promoção) que atinge.
2 A questão atual do Benfica ultrapassa o treinador (com competência provada) e centra-se na definição da política global de gestão de clube que pretende. A partir daí, determina-se o plano e alvos de ação desportiva e financeira. Esta direção está no início de um novo ciclo de poder (ainda em processo de depuração de estilhaços do anterior) pelo que contestar o treinador nesta fase faz menos sentido ainda. Nem este, seja em nome do ego desmesurado ou do orgulho profissional, deve deixar-se colocar no centro dum relvado para ser apedrejado com lenços brancos e assobios num realidade de contestação aumentada sem estruturalmente razão para tal.
3 Vai defrontar agora, curiosamente, uma equipa, o Famalicão, onde, na ultima jornada, o seu treinador, Ivo Vieira se sujeitou (levando consigo os jogadores) a esse apedrejamento de competência indo até junto dos adeptos que, legitimamente, contestavam a exibição da equipa goleada.
O que ao principio poderia ser um ato de respeito para depois unir forças, acabou numa excessiva e prologada exposição (sem reação ou diálogo) de todo o grupo a adeptos em fúria. Alguns jogadores, percebeu-se, não aguentaram e viraram costas. Ivo Vieira, sempre impávido, ouviu tudo (e de tudo). E, no fim, também virou costas e regressou ao balneário.
Não gostei, confesso, de ver nada daquilo. Percebo as emoções do futebol (e até os excessos dos adeptos quando vindos do coração), mas nenhum treinador ou grupo pode ficar assim publicamente despido no seu orgulho profissional. Faço esse paralelo (salvo proporções e distâncias) com a situação/reação de Jesus. O futebol tem regras muito próprias que fogem à mais básica coexistência social, mas quando se inverte a ordem dos valores (seja no que for) é impossível alguém, no fim, ganhar.
O confronto Portugal-Holanda
Num jogo difícil, contra uma equipa sérvia, o Estrela Vermelha, exímio a levar o jogo para um território de conflito, o Braga não conseguiu apuramento para os oitavos da Liga Europa. Vai ao play-off.
Olho, ao mesmo tempo, o nosso conjunto de resultados europeus e lugar no ranking (sexto mas cada vez mais ameaçado pela Holanda, quem mais pontuou esta época até agora) que, analisando em perspetiva nas ultimas cinco épocas que determinam o número de equipas que cada país tem direito meter, deve, neste ritmo, levar a perder a terceira equipa da Champions em duas épocas (o efeito no ranking só se reflete um ano depois).
Mas, atenção: podemos, ainda, segurar os lugares que temos mas, para isso, será necessário pontuar mais esta época (por isso, a importância dos tais jogos aparentemente inúteis com equipas já qualificadas, como foi, até pelo confronto direto, o Ajax-Sporting) e, sobretudo, ficar à frente do contingente holandês na próxima. É, porém, uma disputa, esta entre Portugal e Holanda, que respeita o nível e estilo (correlação de forças e competitividade grandes-resto das equipas) de ambos os campeonatos. Uma equiparação e semelhanças que só com a subida do nível médio de alguma dessas nossas equipas (uma quinta equipa a pontuar na Europa) pode desequilibrar.