Estilo sem saber ler espaços
Esta lacuna sentiu-se mais porque este era um jogo para o FC Porto poder ganhar "por fora" (pelos flancos) e não "por dentro" (o meio), que estava controlado pela superioridade numérica e tática dos escoceses.
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1 - Não existem certezas de jogo quando se sentem tantas hesitações dentro dele. O FC Porto partia dum 4x4x2 que buscava explorar os três corredores para atacar a baliza escocesa, mas, a partir do momento em que deixou de saber o que fazer melhor - com a bola e os jogadores a "viajarem juntos" dum flanco para o outro com velocidade capaz de desequilibrar a defesa adversária -, o sistema em vez de revelar as suas forças expôs as suas fraquezas.
O Rangers é uma boa equipa, cada vez menos "britanizada" no sentido de saber ter a bola para dar corpo tático também de posse a um meio-campo que, por princípio do sistema, já ocupa melhor o espaço, perante os apenas dois médios puros do onze portista (todos os outros jogadores que lá aparecem fazem-no por compensação, nunca por princípio).
2 - Com estruturas tão díspares, o Rangers controlou a zona de pressão (núcleo duro tático do jogo) no centro, o local de onde, sabendo sair-se da pressão, pode depois meter-se a bola com critério no flanco, após escolher o lado por onde penetrar em largura com profundidade.
Esta lacuna sentiu-se mais porque este era um jogo para o FC Porto poder ganhar "por fora" (pelos flancos) e não "por dentro" (o meio), que estava controlado pela superioridade numérica e tática dos escoceses.
De início, ainda parecia que essa estratégia ia funcionar (várias vezes o FC Porto apanhou bem a profundidade nas costas dos laterais escoceses), mas, com o tempo, tudo isso (tirar da pressão no centro e circular para as faixas rápido) desapareceu até o jogo cair nos pés táticos do Rangers.
Porque aconteceu isso? Desde logo, por falta de largura e poder vertical de profundidade nas faixas. Razões mais evidentes: na esquerda, Alex Telles subiu pouco, estranhamente, parecendo desgastado. Na direita, o melhor ala, criativo e de passe com definição, Corona, está a jogar a lateral-direito. Sem esses dois elementos no ritmo ou no local certo, os flancos portistas deixam de carburar.
3 - Ao pedir que Otávio e Luis Díaz jogassem mais por zonas interiores, tal ficou mais evidente, mas nem com isso a equipa ganharia mais presença de recuperação no centro, onde dentro do tal "2" do meio-campo começa a notar-se o desgaste excessivo que tal provoca em Uribe, que corre cada vez mais, mas também cada vez mais a pensar pior em face do que corre a mais.
Desta forma, é natural que a equipa por vezes pareça cansada (mesmo não estando, não pensa bem).
Na frente, sem exibir poder explosivo que faz a força do seu futebol, Marega fica preso/exposto às suas deficiências técnicas. Um problema de intensidade de iniciativa, à qual falta o upgrade obrigatório nos momentos decisivos dos jogos, sobretudo nesta dimensão internacional.