Este Sporting repete o sistema e alguns movimentos sem deixar a rotina cair na... rotina
PLANETA DO FUTEBOL - Quando assistirmos ao próximo jogo do Sporting (provavelmente do titulo) será possível identificar uma ideia comum com o primeiro da época.
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1 Não terá grande fantasia e pode até ser fácil de identificar pelos adversários. A proposta exibicional (sistema e tática/princípios de jogo) do Sporting marca esta época através do respeito pela essência de uma ideia (de quem a pensa, o treinador) e de quem a interpreta (os jogadores).
Um mundo de propensões, como diria Karl Popper, pensador austro-britânico, na qual considerou a probabilidade como sendo uma propensão inerente às condições que produzem as sequências (e, no fim, as consequências).
Não pensava em futebol, claro, ao desenvolver essa teoria da probabilidade como propensão, mas se analisarmos em rigor o que deve ser a relação causa-efeito no jogo de uma equipa, o seu sucesso resulta exatamente da adequação daquilo que os jogadores estão mais propensos para fazer, aplicado a uma ideia de jogo.
Por isso, este Sporting de Amorim repete o sistema e também alguns movimentos sem deixar a rotina cair na... rotina. Isto é, o padrão automatizado não é mecânico porque coloca os jogadores ao nível das suas capacidades e espaços certos de intervenção mais eficazes para a dinâmica do sistema.
2 Por vezes, durante a época, discutimos a questão do jogo leonino estar a ficar demasiado previsível. Amorim procurou mexer no triângulo da frente (entre o "1x2" e o "2x1") ou mudar o perfil do nº 8 de saída (entre João Mário, Pote, e, na parte final, a saída melhor de espaços curto do Daniel Bragança, que também podia jogar a 10) mas, em nenhum destes momentos, se desviou da sua ideia base que adequava as propensões ao que estes jogadores podem fazer bem (proporcionando-lhes fazê-las as mais vezes possíveis no jogo) em adequação à ideia de jogo (princípios metidos no sistema) que pensou desde o inicio.
3 Como isto funciona melhor com exemplos, metam nessa dinâmica a propensão perfeita de Porro e Nuno Mendes a fazerem na largura-profundidade os corredores. E têm a moldura (jogo exterior) perfeita para perceber esta teoria. Existem referências, princípios para as propensões, mas sem nunca retirar a liberdade da imprevisibilidade do jogador a cada jogada.
A velocidade de reação num espaço curto terá de ser muito maior do que num espaço amplo. O apertar das marcações aos avançados (aos homens da frente) condicionou muito a aplicabilidade do processo com o decorrer do tempo/jogos. É nesse ponto que a segunda parte do trabalho da ideia do treinador se torna decisiva, porque lida com probabilidades (e antecipação do que pode acontecer). E quando isso sucedeu, Amorim soube (com as limitações de opções que tinha) reagir sem trair a origem do seu pensamento para o qual aqueles jogadores foram contratados e feitos esta época.
Momentos mais difíceis
O Sporting está a uma vitória do titulo. Quando assistirmos, agora, a esse jogo será perfeitamente possível identificar-lhe uma ideia comum com o primeiro jogo da época. Isto, por si só, já diria muito da coerência necessária que o trabalho de um treinador na construção/operacionalização duma forma de jogar deve ter, mas o mais importante (como acréscimo) é verificar que essa forma de jogar nunca se cristalizou ao longo do tempo. As diferenças derivadas das distintas micro-realidades criadas foram sendo sempre focos de reativação (ou até criação de novas propensões) no jogar coletivo (do individual para uma ideia macro de jogo).
Nem sempre a velocidade e qualidade de apreensão daquilo que é propiciado pela ideia de jogo do treinador é simultânea, mas um dos maiores êxitos do trabalho de Amorim na construção deste Sporting foi conseguir quase sempre esse paralelo. A equipa, jogando melhor ou pior, nunca se perdeu em campo. Soube sempre refugiar-se na sua memória de jogo (no melhor que tinha em termos de processo defensivo) e assim passar pelos momentos mais difíceis.