"Este é um Sérgio Conceição mais maduro e competente"
SENADO - O cronista de O JOGO José Eduardo Simões escreve sobre Sérgio Conceição, treinador do FC Porto, recordando o período em passou por Coimbra e os dias de sucesso que tem vivido no Dragão.
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A primeira vez que se colocou a hipótese Sérgio Conceição para a Académica foi quando o então treinador Domingos Paciência me ligou, pelas 15h00 do último dia do mercado de transferências. Tinha falado com o Sérgio e ele estava disposto a vir jogar na Académica.
Infelizmente, tal não aconteceu porque não se conseguiu assinar contrato (é de referir que Conceição não colocou qualquer questão no valor do salário), reconhecer as assinaturas, fazer exames médicos, pedir o certificado internacional e entregar presencialmente na Liga de Clubes o dossiê completo antes de encerrarem os serviços. Eram tempos em que o recurso ao fax e emails não era permitido na inscrição dos atletas.
Deixou de jogar e encetou a carreira de treinador, que já leva nove ou dez anos. Parece certo o que verifiquei e vaticinei quando esteve na Académica em 2013 e 2014: um técnico de mão-cheia, com ideias avançadas, capacidade de liderança, vontade permanente de aprender e evoluir, domínio do marketing e da psicologia de grupo, boa utilização da comunicação social, conhecimento de pessoas em posições-chave e dos mercados.
O que acontecia era que esses mesmos árbitros por vezes se vingavam nas equipas mais pequenas
A agressividade em campo e nos treinos era uma forma de estar e de testar os jogadores até aos limites: ou queriam ou estavam fora. Nos jogos, explodia com alguma facilidade, fruto de uma combinação de imaturidade que foi ultrapassando e, principalmente, da sensação de injustiça de tratamento quando comparado com o que colegas sentados em bancos importantes diziam às equipas de arbitragem.
Eu estive com ele em jogos e posso testemunhar situações pouco edificantes de árbitros (todos eles) que suportavam e engoliam quase tudo o que jogadores, treinadores e elementos dos bancos dessas equipas faziam, com a complacência de delegados pouco profissionais. O que acontecia era que esses mesmos árbitros por vezes se "vingavam" nas equipas mais pequenas. Tal como hoje existe o VAR, julgo que árbitros e delegados deviam usar microfones de alta sensibilidade, permitindo a gravação do que se passa nas suas proximidades, o que traria alguma contenção e a punição de comportamentos inaceitáveis.
Saiu da Académica para Braga (em circunstâncias que deixaram alguma mossa, ultrapassada pela força das boas recordações, amizade e cumplicidade), onde foi à final da Taça. Se a tivesse conquistado, seguiria para o banco do adversário de então, o Sporting. O destino não quis e teve de fazer um compasso de espera, no decurso do qual esteve para voltar a treinar a Académica, em setembro de 2015, substituindo Viterbo.
Após uma reunião em que se acertaram vontades e pormenores, realizada em minha casa, apresentei a questão aos elementos da sociedade desportiva. Só não veio de novo para a Briosa porque um dos gestores da Académica SDUQ o inviabilizou, dizendo que se demitia do cargo se o Sérgio voltasse... O objectivo talvez fosse outro e deve estar bem arrependido, certamente. Como não veio para Coimbra, seguiu para Guimarães (que manteve na I Liga), depois França e agora Porto, com inegável sucesso.
Este é um Sérgio mais maduro e competente dentro e fora das quatro linhas, porque os jogos não se ganham só com treinos e jogadores bons. A pressão é muito maior, os bastidores são verdadeiros jogos de xadrez. Mais maduro e igualmente bem mais ambicioso, julgo que está perante uma encruzilhada. Onde conseguir chegar com este Porto, o que conquistar, será o detonador do passo seguinte, para o qual está perfeitamente preparado: Itália, Inglaterra ou Espanha, num projecto que escolherá desde que disponha de recursos para chegar ao topo da Europa. Vamos ver o que acontece lá para Maio!