Dizia ele, a certa altura e a propósito de ter substituído Flávio Meireles, que o nosso capitão era daqueles que ele podia tirar sem qualquer problema, pois sempre entendia que tudo era feito em prol da equipa.
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Se fizermos uma pesquisa no Youtube por "Carles Puyol" encontramos inúmeros vídeos desse notável jogador que dedicou uma vida ao Barcelona. Mas muitos desses vídeos, apesar da grande qualidade futebolística do jogador, não são feitos de grandes cortes, entradas ou golos. São antes flashes de uma carreira que ilustram o tremendo líder que foi o catalão.
Há uns bons anos, no fim de um jogo do Vitória, estava com uns amigos num bar e chegou o nosso mister de então, Manuel Cajuda, acompanhado da família. Como ficaram na mesa do lado, rapidamente se meteu conversa e as horas foram passando em amena cavaqueira.
Desde um lance em que o Real Madrid tinha acabado de marcar ao Barça e os seus jogadores corriam em festejo em direção à bandeirola de canto e já Puyol tinha ido buscar a bola ao fundo das redes incentivando os seus companheiros a retomarem a partida; passando pelas cenas em que o defesa punha termo a sururus mesmo quando tinha sofrido uma entrada violenta, dizendo aos colegas que ele resolvia o assunto; até aos inúmeros lances em que dava tudo o que tinha e o que não tinha e terminado em gestos inesquecíveis de solidariedade para com Abidal e Tito Villanueva.
Muitas vezes, este tipo de jogadores não são as vedetas das suas equipas. Mas são tão ou mais importantes do que elas. São líderes dentro e fora do campo. São aqueles cujo exemplo os demais procuram seguir. São aqueles que puxam a equipa para cima quando ela está em baixo. Que dão os puxões de orelhas quando têm que dar. Que permanentemente mantêm aquelas onze pessoas unidas e a lutar pelo bem coletivo.
Há uns bons anos, no fim de um jogo do Vitória, estava com uns amigos num bar e chegou o nosso mister de então, Manuel Cajuda, acompanhado da família. Como ficaram na mesa do lado, rapidamente se meteu conversa e as horas foram passando em amena cavaqueira.
Dessa conversa, algo que ele disse ficou-me gravado. Dizia ele, a certa altura e a propósito de ter substituído Flávio Meireles, que o nosso capitão era daqueles que ele podia tirar sem qualquer problema, pois sempre entendia que tudo era feito em prol da equipa.
O Flávio foi, efetivamente, um daqueles líderes que marcou uma época no Vitória. Não chegou a internacional A. Haverá outros médios que atingiram, com a nossa camisola, uma qualidade futebolística superior, mas foi um comandante que nenhum Vitoriano esquece. E continua a sê-lo, sentado no nosso banco.
Precisamos muito destes jogadores e neste momento, confesso, não tenho visto rasto deles no relvado. E no entanto, há quem tenha todas as condições para o assumir. Seja pelos anos de casa, seja pelas carreiras riquíssimas e conquistas várias. Mas é preciso que isso se veja. Que sejam os primeiros a puxar pela equipa quando ela está em baixo. Que apelem ao compromisso quando há aparente menor motivação.
E sobretudo, quando são substituídos, que saibam engolir a natural azia de quem não gosta de sair, e não ponham aquela cara de caso que toda a gente sabe o que quer dizer mas que, ao contrário, saiam a correr incentivando o colega que vai entrar.
É dessa massa que são feitos os líderes. Está na hora de eles se assumirem.