TEORIAS DO CAOS - Uma opinião de José Manuel Ribeiro
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Talvez seja a frase mais importante jamais escrita sobre este jogo e vem a calhar: no futebol, como nos relógios parados, toda a gente acaba por estar certa.
Mas o epílogo, a verdadeira lição, é que, mesmo quando tivermos razão, vamos tê-la por pouco tempo. Vencedor de tudo quanto há para ganhar e jogador-chave de Guardiola durante três épocas, o antigo capitão do Bayern Phillip Lahm desmontou o tema numa reflexão publicada anteontem em vários jornais europeus. O espanhol "El País" escolheu o título "Um futebol próximo de Usain Bolt" e o inglês "Guardian" optou pelo mais concreto "Xavi é a epítome do brilhantismo do Barcelona, mas os tempos mudaram".
Nas vésperas do primeiro jogo de Xavi Hernandez como treinador dos catalães, a Imprensa internacional encheu-se de artigos sobre a intransigência do médio mais impressionante que vi jogar pelo chamado "tiki-taka" (Xavibol seria bem mais rigoroso) e a jura de que nunca lhe será infiel. Em resposta, Lahm discorre sobre as várias goleadas que passaram a marcar a rotina do Barcelona na Champions após 2015 e como as equipas foram ganhando anticorpos contra aquela forma de jogar. "Guardiola rompe com a tendência", escreve (na tradução do "El País"), "mas também faz conceções. Permite que os seus jogadores atuem mais à defesa e, às vezes, até entrega a bola ao adversário".
Num futebol "mais rápido, mais robusto e mais físico", o alemão vê "o apelo do Barça diminuir" e posto em causa, na Europa, "o estilo dominante com posses de bola de 70% ou mais". Os novos protagonistas, ressalva, "parecem-se mais com Usain Bolt do que com o Xavi de 1,70 metros".
Não há nada de revolucionário na análise de Lahm. Há duas semanas, até o menottista Jorge Valdano (de Cesar Menotti, guru argentino do futebol positivo) admitia que "se corre muito por aí, e às vezes até bem", no rescaldo ao Liverpool-At. Madrid. "Se até a equipa mais intensa da nossa Liga é submetida a este ponto, chegou o momento de refletirmos. Começando por reconhecer que aos futebolistas espanhóis vai custar alcançar a qualidade atlética que mostram o futebol inglês, alemão ou francês".
Ninguém fez essa reflexão quando a equipa mais intensa do campeonato português - o FC Porto - sofreu a mesma asfixia com o Liverpool, e o selecionador é vergastado sempre que procura um meio-termo que ampare essa deficiência cada vez mais visível na Seleção Nacional. "Chegou o momento" para Espanha, campeã mundial e bicampeã europeia, mas o que é a miserável Espanha perante o esplendor das opções de Fernando Santos? Talvez Xavi, que é uma personagem invulgar, encontre novos caminhos; talvez o Manchester City não volte a ser derrotado na final da Liga dos Campeões pelos três centrais e dois trincos do Chelsea; talvez os tarzans do Chelsea não vençam o campeonato inglês esta época. Se acontecer, o relógio parado dará razão a outros. Hoje, é demasiado evidente que só tira.