PONTAPÉ PARA A CLÍNICA - Um artigo de opinião de José João Torrinha.
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No que toca à primeira liga, foi escolhido o melhor dos caminhos esburacados. Tem problemas? Tem
1 Era previsível. A hora das decisões ia chegar e muita gente ia ficar zangada. Ao abordar o tema das competições desportivas importa, contudo, que se parta de uma posição de princípio com um mínimo de seriedade: a de que qualquer decisão que se tome é sempre má e dificílima para quem a toma. De entre as más, muito más e péssimas, importa mesmo é escolher as menos más, o que implica que sempre haverá vítimas de fogo amigo. As coisas são o que são.
No que toca à primeira liga, foi escolhido o melhor dos caminhos esburacados. Tem problemas? Tem. E se começarem a aparecer jogadores infetados? A verdade desportiva será inteira e imaculada num campeonato atípico assim concluído? Jogos à porta fechada podem ser misturados com os outros num campeonato em dois atos tão diferentes?
A decisão está cheia de problemas, mas basta olhar para o que se passa por essa Europa fora (e mesmo cá para dentro no que se refere às outras competições) para percebermos a caixa de Pandora que se abre ao decidir terminar uma competição que vai a meio.
A verdade é que quem decidiu parar as competições parece somente ter trocado os estádios pelos tribunais, pois é certo e sabido que os espoliados da paragem não vão ficar quietos (e eles próprios parados) aceitando algo que lhes sabe amargamente a uma injustiça sem nome.
Pela primeira liga lusa já tudo trabalha com vista ao regresso. As equipas adaptam as suas rotinas a tempos incertos e por isso mais exigentes. As próprias regras estão em vias de ser alteradas, com a previsível permissão temporária para cinco substituições. A tradição já não é o que era e os nossos amigos do International Board andam numa azáfama que lhes é pouco comum. Ainda bem, dizemos nós.
O adepto, esse, anseia desesperadamente por ver futebol, nem que seja da Coreia do Sul ou das Ilhas Faroé. A verdade é que esta privação nunca vista parece já durar há tempos infinitos. Ver jogos à porta fechada não será o remédio que todos desejávamos, mas pelo menos servirá para atenuar a nossa míngua. Quanto ao regresso aos estádios, esse, temo bem que não seja para tão cedo.
Mas como em tudo na vida, há sempre um lado positivo no meio desta secura futebolística: durante meses fomos poupados àqueles programas de comentário aditivados por clubite doentia que atafulhavam as programações de tantos canais televisivos. Disso vou ter saudades, confesso.
2 Parece que há quem pense que lá por alguém ser jogador de futebol e internacional português perde o direito à palavra e à opinião. Estranho. É quase como defender que só quem seja ou tenha sido jogador ou treinador tem o direito de escrever e comentar sobre futebol. É claro que todos podem falar sobre tudo. E quando falam bem, há que aplaudir. Quem não gostar, tem bom remédiao: diz que não gosta. São as regras do jogo democrático, que, pelos vistos, alguns só gostam de jogar quando lhes dá jeito.