PLANETA DO FUTEBOL - Um artigo de opinião de Luís Freitas Lobo.
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1 Após tantos dias por locais estranhos, o futebol pedia que o devolvessem ao relvado. Quando um treinador pega numa equipa a meio da época, e tem logo um jogo poucos dias depois, muitas vezes o mais indicado é não mudar nada mas ninguém entra na história por não (tentar) fazer nada (ainda por cima num jogo grande).
Nelson Veríssimo sentiu que o mundo benfiquista lhe exigia que mudasse tudo. A razão (e esperança nessa mudança imediata) era simples: a equipa, nos jogos anteriores, mais do que a si própria queimara aquele que viam como o treinador-maldito, a causa de todos os males. Por isso, mais do que de qualquer treinador, este era um jogo dos jogadores.
Ao passar para o defesa clássica a "4", Veríssimo quis revolucionar taticamente a equipa (embora sem o "Che" Pizzi no meio-campo) mas montou um 4x2x3x1 com Rafa e Everton desde as alas e Gonçalo Ramos atrás de Yaremchuk. A cratera do meio-campo mantinha-se e o FC Porto sentiu isso desde o primeiro instante.
2 Na ausência do seu génio, uma equipa deve logo transferir o foco de como ganhar para o centro do seu pensamento, o meio-campo, aquilo que verdadeiramente a faz forte como coletivo. Sem Luis Díaz, Conceição sabia que não podia fazer a equipa voar de início como seria natural com ele. A maior noção de equipa não poderia, porém, meter o jogo numa espécie de linha de montagem do mero sistema tático.
Com isso em mente, a intenção foi a oposta: a que permitisse aos jogadores fazer o que entendessem, com a liberdade da "tática individual", mas dentro dos princípios (inter-relação entre os espaços) estabelecidos.
Também sem a referência do n.º 9 que joga em apoios (Evanilson) agarrou o meio-campo com Fábio Vieira na frente da dupla mordedora-construtiva Uribe-Vitinha e, assim, num 4x3x3 de mobilidade ofensiva com o segundo avançado alternado a aparecer: Pepê em diagonais, tal como Otávio, embora este pensando mais como médio quando chegava ao meio, ou, claro, o "inserimento profundo" de Fábio Vieira.
3 O golo de Yaremchuk podia ter aberto outras tendências (táticas e emocionais ) no jogo mas com a súbita inferioridade numérica encarnada tal permitiu ao sistema portista lançar o "modo de gestão" ativo. O Benfica tentou desenhar uma reação através do meio-campo mas nunca acreditei em reações que tivesse como plano a saída do jogador mais perigoso da equipa, a "seta" Rafa. E assim desapareceu do campo.
A diferença entre as duas equipas nesta fase da época é clara. O FC Porto tem um processo de jogo solidificado (que mesmo com nuances de sistema pelos titulares ausentes) conseguiu na mesma jogar e ganhar como equipa. O Benfica busca reencontrar uma estrutura de jogo para dar vida à qualidade dos jogadores que tem apesar dos desequilíbrios de opções no plantel. Por isso, um novo treinador nesta fase não poderá ser visto como uma solução isolada. A noção de equipa precisa de novas ideias para lhe darem qualidade de vida.
O oxigénio de Paulinho
O Portimonense é daquelas equipas que nunca se refugia no sótão tático da sua defesa e tem sido a melhor da chamada classe média a perceber como se deve atuar nos jogos fora. Chegou a Alvalade e voltou a estender essa sua tenda de futebol por todo o campo com mira de contra-ataque. Ficou, assim, a ganhar e tinha o jogo como queria quando o imponderável... provável (uma expulsão do trinco, Pedro Sá, já amarelado) lhe retirou o oxigénio (palavra bem utilizada por Paulo Sérgio para explicar o rigor físico-mental ou falta dele) para continuar esse seu caminho em campo.
Faltavam 25 minutos ainda para jogar. Muito tempo para aguentar taticamente debaixo de água (sem respirar) contra este Sporting que acredita sempre que no fim tudo vai acabar bem. E assim foi, num final ofensivo que retirou da cave dos goleadores esquecidos um n.º 9 feito a jogar de costas: Paulinho. Virou-se para a baliza e fez três golos. Em cada um deles, como é habitual, apontou para a cabeça. Estava lá, nesse momento, o oxigénio todo existente na atmosfera de Alvalade. Até Pedro Gonçalves, "pote de golos", se riu quando reclamava penálti após rematar contra um jogador algarvio, e, de repente, viu que, afinal, essa bola ressaltara para Paulinho com a baliza aberta. Era como o destino oxigenado.